sábado, 5 de abril de 2008

Na Linha Da Utopia [Sequência 15 textos Setembro 2007]
À Semana!
1. É isso mesmo! Aceitámos o desafio de escrever de segunda a sexta. Coisas “simplex” da vida, como quem pára um instante e escreve uma ideia simples hoje, porque amanhã haverá a oportunidade para outra.
Pensámos em chamar outros nomes a este espaço. “Um minuto”, foi o primeiro título idealizado, precisamente da ideia de quem pára e escreve ou lê umas linhas em 60 segundos. O segundo nome eleito seria “Salinidades”, sempre no gosto de colocar o sal na comida (não demais por causa da saúde) e na reflexão, este sal do paladar, do gosto e do sentido tão especial da terra “feita” ria e mar para as gentes aveirenses. Por falar nisso, como vão as nossas salinas?! A terceira solução de nome apontado foi, e porque à terceira teria de ser de vez, integrar a palavra Utopia, esse nome da famosa ilha do (inglês cidadão do novo mundo) Tomás Moro (1478-1535) no título desejado. Assim está!
2. Poderíamos chegar lá de outro modo, mesmo “No Comboio da Utopia”. Mas, por opção, não queremos chegar lá tão rápido, não vá o comboio ser de alta velocidade. Queremos ir devagar. Queremos, simplesmente, embarcar. Colocarmo-nos nessa linha e “ler” alguns sinais do nosso mundo. Coisas simples, como tão simples, afinal, é a vida. Descomplicar (o que é difícil) será o caminho da virtude. Assim, o nome deste espaço será “Na Linha Da Utopia”. Amanhã diremos mais sobre o porquê da sedução dessa ilha utópica.
(Após quase quatro anos e meio de colaboração – quase semanal, iniciada 25 de Março de 2003 – chega a hora de mudar a forma. Passado é passado! Quanto a esse, quem sabe um dia poderá ser reunido numa edição. Duvidamos, mas, a-ver-vamos! O futuro a Ele pertence!) Alexandre Cruz

Na Linha Da Utopia
12 de Setembro
1. Tem sido este o dia dos dias em que “estamos”, o dia seguinte depois de uma noite de pesadelo. Há seis anos, neste amanhecer do 12 de Setembro, o pó começava a baixar e das cinzas da capital americana erguia-se a reflexão mundial sobre o que aconteceu, e (mais importante) porque aconteceu.
Líderes políticos e religiosos, académicos e sociais, todos nesse dia proclamaram acreditar na liberdade e na paz, mas, muitas vezes, os hábitos diários empalidecem e comprometem esses mesmos valores desejados nas terras fartas (e às vezes vazias) do ocidente.
Após um muro aberto (Berlim, 1989), outro muro se ergueu no mapa da geopolítica das forças em confronto. Que coisa esta da vida dos humanos, será que é sempre preciso haver alguém do “outro” lado para se procurar novos equilíbrios? Precisam as sociedades do confronto para sobreviverem? Até quando?
2. Ainda que com muito reconhecimento das diferenças sociais, culturais e religiosas, ainda que ora com esforço ora com indiferença, a verdade é que o rastilho continua aceso e as reflexões sobre os “porquês” para melhor gerir os “para quês” continuam, parece, infecundas. Afinal, em que o 11.09.2001 renovou a ONU?
Talvez, no fundo, não alimentemos o “acreditar” na liberdade e paz que proferimos; talvez ainda não dêmos a importância devida ao fundamental das razões do terrorismo para na “origem” diluir não com armas mas com “valores”; talvez, ainda, a busca do protagonismo e do ter das nações e a ausência de “tempo” não dê margem de manobra.
Tanto foi reflectido, tanto foi feito de bom na procura de pontes de conhecimento mútuo para entendimentos superiores. Mas tão pouco espaço e escasso significado planetário tem, ainda, o projecto Diálogo de Civilizações. Sim, todos vulneráveis…todos em diálogo!
Alexandre Cruz

Na Linha Da Utopia
Sim, os livros escolares!
1. Começa o ano lectivo. Com o início das aulas, as habituais palavras sobre o aumento do preço dos livros e do material escolar, a par também do procurado protagonismo das editoras na mudança de livros de ano para ano. Já lá vão os tempos - e que não regressarão - em que os livros tinham a validade de alguns anos e transitavam de irmão em irmão.
Livros sempre novos…sinal de mais sabedoria e mais qualificada formação? Assim seja, para alunos e para educadores. Naturalmente que os desafios da educação contemporânea não se compadecem com o cristalizar, o parar, o viver no hábito instalado; acompanhar a tempo as inovações torna-se, hoje, um imperativo.
2. Há dias numa rádio nacional o debate era sobre os livros que são mais caros, havendo testemunhos de despesas na ordem dos 100 a 150 euros. Não duvidamos que às bolsas da nossa asfixiada classe média, a par dos aumentos das taxas de juro, a situação de gestão da vida não é nada fácil, mas…
Talvez valha a pena sublinhar, em destaque, que os livros escolares são para todo o ano e que não se trata de despesa mas de um importante investimento para a formação e qualificação do futuro profissional. Uma pedagogia em relação às virtudes dos livros escolares continua por fazer.
3. Mesmo fazendo contas, sempre apertadas, à vida, os livros e materiais escolares terão de ser considerados não como algo de periférico, secundário, mas sim como instrumentos de conhecimento, aprendizagem, valores tão necessários ao futuro cidadão.
E porque não considerar os livros adquiridos como um tesouro familiar que cada ano vai entrando em casa? E porque não dizer que, desde já, os livros escolares são a (melhor) prenda de Natal deste ano? E porque não não fazer tanta despesa no Euromilhões e investir mais nos livros escolares?! Alexandre Cruz [12.09.07]

Na Linha Da Utopia
Abençoada dúvida de Teresa de Calcutá
1. Quando dos 10 anos do falecimento de Teresa de Calcutá (pela mesma altura do de Diana) muito se falou acerca da dúvida que a acompanhou em parte significativa da sua vida. Um mundo de mal entendidos e mesmo desencantos pairaram sobre a figura da mãe dos pobres dos pobres de Calcutá.
Talvez, mesmo em muitos meios ligados à área da religião, paire uma ideia pálida de que a santidade é sinónimo de uma linearidade e certeza inquestionáveis. Puro engano, pura ilusão das nuvens, como se a santidade na vida real fosse o viver acima das nuvens.
À condição humana, que se vai entreabrindo na sua realização histórica concreta, pertence a ansiedade, a aridez, a inquietude, a dúvida (quase como se fosse um aguilhão sempre presente). O conhecer-se a si mesmo e o viver a intensidade da vida no mundo, faz com que essa “distância” sempre existente em relação ao absoluto de Deus ganhe contornos de uma hercúlea batalha existencial.
2. Claro que ao ser “santinho” não pertence nada deste dinamismo criativo; e, no fundo, ser santinho, é algo que não existe, a não ser na mente de quem oculta a grandeza do ser humano que habita em si e vive “à sombra” de imagens que desta ou daquela religião lhe imprimiram, acabando por ocultar a sua própria dignidade humana mais profunda.
Se a dúvida de Teresa é sinal, maior ainda, da sua grandeza, a sua “aposta” desafia todos aqueles que pararam na dúvida, ficando a meio do caminho. Teresa diz-nos que, na sinceridade das dúvidas, haverá que dar passos corajosos no rumo da descoberta do ser-Deus; não um duvidar (metódico) para ficar sempre na mesma. Não um nem sequer duvidar!...
Abençoada dúvida de Teresa que tantos frutos deu! (Já da “dúvida” da Madeleine e da Selecção, nada há a dizer!) Alexandre Cruz [13.09.07]

Na Linha Da Utopia
Aveiro Cosmopolita
1. Sabemos que as potencialidades são imensas nesta bela região do país que alia o mar à ria, a serra à planície, a tradição à inovação. Já desde os tempos antigos que junto aos rios, às lagunas e ao mar, as civilizações espelharam um dinamismo especial, como que sendo a água o elemento gerador desse impulso criativo que junta a beleza estética com a eficiência do compromisso inadiável com a história. Assim foi e assim é Aveiro!
Diante do “tanto” que sempre nos falta em dinâmicas envolventes e o “muito” que esta terra já conseguiu como afirmação (lícita) de referências nacionais e internacionais, venham, pois, os turistas apreciar e multiplicar esta nossa “água cultural” por esse mundo fora. Se, muitas vezes, se diz no refrão que “o turismo é que nos pode salvar”, a verdade é que ele só na qualidade poderá triunfará.
2. Este verão Aveiro foi invadida pelo mundo; gente de todos os lados visitaram, estiveram, comeram, alojaram, passearam. Se a hora presente (como em tudo) será de avaliação estratégica para sempre mais e melhor envolver e realizar, também terá de ser de apreço reconhecido por quem colocou, dinamicamente, este moliceiro a andar, a Rota da Luz.
A cidade e região, que todo o ano acolhe muitos milhares de estudantes e que já é “morada” de fim-de-semana de muitos espanhóis, neste verão sentiu um novo “sinal” que muito estimula ao continuado aperfeiçoamento na qualidade de tudo aquilo que se faz. A aposta está ganha, e a sua consolidação vem a caminho! Pormenores e particularismos à parte, o cosmopolitismo de Aveiro é hoje uma “imagem” de acolhimento que enobrece a todos e a todos compromete.
3. Por isso, também o emblema que é a Ria de Aveiro não pode esperar (na burocracia), e mesmo todas as línguas e culturas que não são turistas mas que ao longo do ano nos habitam (trabalham, com ou sem-abrigo) merecem sempre mais e melhores condições para “aprenderem a pescar”. Se isto conseguirmos, seremos a cidade do futuro! Alexandre Cruz [14.09.07]

Na Linha Da Utopia
Receber Dalai Lama?
1. Angela Merkel, chanceler alemã, aceitou receber oficialmente o Dalai Lama, tal como recebe o Papa ou outro líder de grande religião mundial. A sua visão do futuro passa não pela exclusão, mas pela inclusão pacífica de tudo quanto é manifestação de cultura, interioridade, religião ou filosofia. Saberá Merkel que, numa comunidade viva, o espaço de liberdade religiosa caminha a par do acolhimento por tudo quanto é ideal de paz.
Não sabemos, com rigor as percentagens de budistas na Alemanha, mas não deve andar muito longe da realidade portuguesa. Também algo de semelhante é o facto da Alemanha, como Portugal, em Dezembro 2005 terem assinado com a China um acordo de Parceria Estratégica Global. Claro está, é um acordo tendencialmente económico, onde interessam muito pouco os direitos humanos. E o chamado ocidente pactua com tudo isto…
2. A história relata-nos que a China comunista invadiu o Tibete em 1959, considerando-o como sua província e organizando o genocídio cultural no desrespeito cabal pelos direitos humanos. Desde esse tempo que o Dalai Lama fugiu para a Índia, onde mora até hoje, gerindo a comunidade do exílio. (O Tibete é considerado o “teto do mundo” pelas suas montanhas da cordilheira dos Himalaias que atingem 4875 metros de altitude.)
Após massacres pelo exército chinês, em 1989 o 14º Dalai Lama (de nome Tenzin Gytaso) recebe o Prémio Nobel da Paz, passando a ser recebido por chefes de Estado, facto que provoca protestos chineses. Perturba à China que em 1999 lança uma forte campanha de difusão do ateísmo no Tibete, toda a paz esperançosa que o Dalai Lama anuncia por esse mundo fora (Dalai Lama que significa Oceano de Sabedoria).
3. Angela Merkel defende os direitos humanos (no Tibete) sem medos da reacção chinesa. Louvável! Portugal preside à Comissão Europeia e não tem tempo ou tem os “motivos óbvios” (económicos). Se não há tempo para, acima de tudo e todos, defender os direitos humanos, há tempo para quê? Como será, depois, a coerência da defesa dos direitos humanos e a recepção a líderes religiosos? Está mesmo a dignidade humana subjugada à economia?! (Que pergunta!) Alexandre Cruz [17.09.07]

Na Linha Da Utopia
Um Curso compensa
1. Há algum tempo pairou no ar a ideia de que acabaria por não valer a pena tirar um curso, pois as dificuldades do mercado de trabalho para os recém-formados apresentar-se-iam como uma garantida certeza.
Esta ideia (de certa forma cómoda, a combater) é um puro engano de quem quer ver a realidade com olhos de passado (e não de futuro), e de quem esperaria o milagre fácil da ligação directa curso-trabalho.
Por estes dias muito tem sido sublinhada (oportunamente, em início de ano escolar) esta certeza firme de que estudar mais cria mais possibilidades de futuro pessoal e profissional, abrindo novas perspectivas à vida.
2. Esta pedagogia social de um Curso como uma “ferramenta” para toda a vida, mas numa dinâmica de contínua aprendizagem e formação permanentes ao longo de toda a vida, torna-se hoje um imperativo (sempre a sublinhar), sendo mesmo talvez a única alavanca de transformação da comunidade social.
As coisas são claras: nesta sociedade global do conhecimento (onde ele é o motor de tudo), da informação e comunicação, ou essa aptidão polivalente, visionária e comprometida existe cada dia ou o comboio passa e ficaremos em terra.
Os dados estão aí. O recente Relatório da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico) confirma esta urgência de considerar o estudo e o curso como eixo determinante do desenvolvimento de um país. Mais, Portugal, da União Europeia, é o país onde um curso mais compensa.
3. Talvez teremos, na aperfeiçoada mudança de mentalidade, de fazer bem alto a “publicidade” desta ideia de que mais formação é garantia de uma vida melhor, ela pode ajudar combater o abandono escolar e o abstencionismo da participação social. Mas, há vida para além do curso! Quanto mais for o horizonte de cultura, de valores e de polivalência, mais cidadão e melhor profissional teremos. Assim seja!
Alexandre Cruz [18.09.07]

Na Linha Da Utopia
Código Penal e…?
1. A 15 de Setembro entrou em vigor a revisão do Código Penal. O alarme foi dado com o facto de muitos presidiários preventivos verem, agora, as portas abertas, podendo regressar à sociedade. São membros de pleno direito da comunidade e o seu regresso, matéria tão complexa quanto geradora de múltiplos sentimentos, é um facto. Estarão preparados? Estará a sociedade portuguesa preparada? Que preparação, renovação de vida e reabilitação pessoal, tem a pessoa presidiária nos estabelecimentos prisionais?
Sem ‘afunilar’, em matérias de grande amplitude (tratando-se de área de especialidade de extrema complexidade), destaque-se que a revisão do Código Penal, reforça a protecção de vítimas indefesas, de menores e dos crimes sexuais; torna crime o tráfico de pessoas para exploração sexual, a exploração do trabalho ou a extracção de órgãos; também o combate aos crimes contra o ambiente e incêndios florestais sai reforçado. Ainda, lá está contemplada a burla, corrupção e a responsabilidade penal das empresas, sociedades civis ou comerciais, face a um vasto conjunto de crimes previstos no código.
2. Mas, indo ao centro da questão, destaque-se que no Código são aumentadas as penas alternativas à prisão (até um ano em regime de permanência na habitação, com vigilância electrónica), e mesmo é previsto o alargar da aplicabilidade da substituição da prisão por trabalho a favor da comunidade. Na generalidade, boas notícias, assim exista uma preparação social consciente da parte de todos os actores envolvidos. E é aqui que o assunto fica “torcido”! Todas as previsões são o ideal apontado que pressupõe a plena consciência de presidiário, instituições e sociedade. Que bom seria que esse mundo existisse! (E como o preparamos?!)
Entre tudo se poderá dizer ou não considerar em assunto tão complexo, parece, todavia, que uma área continua por merecer a preocupação essencial: como reabilitar a pessoa presidiária? A este respeito talvez a revisão do Código Penal manifeste mais uma preocupação criminal que a visão de justiça como pedagogia. Não seria possível mais e melhor? Alexandre Cruz [19.09.2007]

Na Linha Da Utopia
Escola, pais e filhos
1. Esta é uma relação fundamental. Sem ela o processo educativo ficará a meio do caminho. Mas, a par de tantos outros factores, devemos ainda, nos nossos dias, corresponsabilizar as sociedades civil e da informação e comunicação (hoje global). Todos estes actores, seja na escola pública ou privada, na sua intervenção essencial, revelam-se decisivos para uma coerência (e convergência) interna em ordem a conseguir passar uma mensagem que da “instrução” agarre o todo da pessoa em processo de “educação”.
2. Particularmente, desperte-se para a necessária mudança de mentalidade (que muitos pais ainda têm sobre a escola/educação) de que isso de “educar” é coisa entregue à escola, tal como a formação pessoal mais profunda (mesmo espiritual) está entregue ao local onde se deixam os filhos. É certo que os novos contextos sociais, mesmo tecnológicos a par da sublinhada “falta de tempo”, desafiam grandemente a missão dos pais em educar. Por isso mesmo, e por todos os motivos que se possam apresentar, cada vez mais torna-se imprescindível a sua presença e persistência neste ideal.
3. Pais e educadores atentos e com interesse para com os seus filhos e educandos, especialmente nos anos da formação inicial, representam hoje o segredo de uma vida futura com sentido (pessoal e social), capaz de posterior intervenção cívica. Todo o esforço na educação representa, para cada casa como para cada comunidade, o maior tesouro, na certeza de que “um dia” colhe-se os frutos da atenção cuidada ou os males do desinteresse de quem só vai buscar as notas ou é “parte do problema”.
4. Mesmo com os ansiosos e naturais contextos de dispersão sempre presentes, com o novo ano escolar, seja renovado todo o compromisso de convergência no sentir que cada gesto e cada palavra é um irrepetível “semear” de princípios, critérios e valores. Nesta tarefa, conhecermo-nos (Escola, Pais e Filhos) é a estrutural rampa de lançamento!... Apesar de tudo, haja (o Ser e o) Tempo, é essencial! Alexandre Cruz [20.09.2007]

Na Linha Da Utopia
O calcanhar do Chelsea
1. Factos são factos. O famoso treinador saiu e um novo treinador entrou. Nada de especial nestas lides do futebol comércio (escândalo com espectáculo), não fosse todo o historial de vitórias inéditas a par da estratégia mediática sempre no fio da navalha, mantendo (em polémicas ou não) cada dia a chama acesa. Assim, muito mais que um simples treinador, este caso envolve tudo o que se poderá considerar como comunicação, inteligência e emoção pública, num país onde o futebol é a própria metáfora original da nação inglesa.
2. O milionário presidente russo do clube londrino é que não compreendeu o jogo onde se meteu. Talvez melhor fosse que o seu jogo económico também fosse mais “limpo” (pelo que parece a sua fortuna petrolífera não lhe permite voltar à justiça da Rússia). A certa altura, quem só sabe lidar com milhões de dinheiro acaba por nada entender do que são as emoções mediáticas, não sabendo ler como actuar. É o caso. Os adeptos adoram (é isso mesmo, é mau, mas é verdade, “adoram”) o treinador que por sua vez sabe lidar com eles e com todos; o treinador que se demite. É o fim!
3. E o futuro? É incrível mas é mesmo assim, o treinador “special” que sai continua a somar milhões, ora no bolso próprio ora na algibeira dos apostadores da (e do) capital. O treinador que entra, aflito, diante de adeptos que querem o seu “pescoço”, aguarda pelos golos dos jogadores que já não querem jogar à bola. Até onde irá o jogo do presidente do clube ex-campeão? Mais que o treinador, o presidente mudo concluirá que em todo este processo ele escolheu ser a vítima favorita dos adeptos. Quanto mais José Mourinho fala em liberdade, mais Avram Grant (novo treinador) treme e mais ainda o riso do presidente Abramovich se converterá em fuga. Enquanto é tempo e os adeptos deixarem! AC [23.09.07]

Na Linha Da Utopia
Seringas e causas
1. Este mundo não é mesmo o melhor dos mundos, é o mundo possível. Mas as soluções para os problemas sociais, tanto não poderão perder o contacto “cru” com as realidades como não se poderá decidir na base de um pragmatismo que se esquece de iluminar as razões das problemáticas existentes. O caso do Programa Específico de Troca de Seringas (projecto-piloto, experiência), aprovado no Parlamento há meses ao fim de 15 anos de discussão é o espelho desta mesma ansiedade da história e da gestão do bem comum.
2. Não sabemos se se deve ou não realizar esta troca de seringas nas prisões (se será o mal menor ou não), mas o que nos parece é que vivemos um tempo em que a gestão do que é comum (e nisto, mesmo os dinheiros públicos) são aplicados talvez mais nas consequências (e por isso nas coisas) que nas “causas”. É certo que, com realismo, todas as palavras dos bons costumes pouco valem em contextos onde a própria humanidade pessoal está, porventura, deteriorada, sem capacidade de fortalecer uma vontade libertadora do pesadelo da droga. Mas, persistimos que o investimento fundamental – mesmo como “sinal social” - deverá ser na formação.
3. Os ecos não se fazem esperar. Das perto de 13 mil pessoas presidiárias em Portugal, quase um terço vive o contacto com o flagelo da droga. Nestes dias, testemunhos de antigos reclusos viventes desse ambiente sublinham tanto o erro da troca de seringas, como, por semelhança, a bebida ao alcoólico e a cada um a sua dose de vício. E ainda, a tão simples pergunta habitual: as pessoas que toda a vida sempre lutaram e vêm-se na necessidade de esperar anos por cirurgia, que sentem destes prontos investimentos em seringas, no aborto,…?
4. É certo, cada coisa no seu lugar, cada problema a sua decisão; e talvez ser um país moderno seja assim mesmo! Mas se este investimento propagador existe, então haverá que olhar mais e melhor, em coerência, para os investimentos fundamentais, tanto da acção social (dos pobres aos desempregados que têm famílias para alimentar), como para aprofundar sobre a função educativa e pedagógica dos espaços presidiários. Enquanto “isto” não agarrarmos continuamos pela rama, em feitiços (de droga) que se podem virar contra os feiticeiros. O terreno é pantanoso! Alexandre Cruz [24.09.2007]

Na Linha Da Utopia
Aveiro é nosso!
1. Que seria de Aveiro sem os estudantes?! Esta pergunta simples – feita no presente – conduz-nos à visão que, ao longo de mais de três décadas passadas, faz hoje de Aveiro uma “cidade dos estudantes” voltada para o futuro.
A “hora” é a do melhor acolhimento de todos, no esforço dedicado de bem receber aqueles que chegam pela primeira vez e os que continuam o seu estudo. Associações de Estudantes e todos os múltiplos serviços abrem a casa para que todos (os que vêm de todo o país e de muitos outros países) se sintam em casa.
2. É formidável sentir o grito da cor e da expectativa dos que pela primeira vez abarcam em Aveiro. Do seu grito “Aveiro é nosso!” sente-se a rápida identificação e o gosto de logo viverem os ares desta dinâmica região aveirense.
O passar do testemunho das tradições da “faina académica”, especialmente também em tempos de curso mais concentrado (Bolonha) afirmar-se-á como tarefa fundamental para uma pertença dinâmica na vida de uma desejada comunidade plural aberta aos saberes universais.
3. Aos estudantes (que são a razão de ser e o centro de referência das instituições de ensino e do seu múltiplo acompanhamento), hoje é colocada em suas mãos a oportunidade de um curso que é sempre uma responsabilidade social.
Um curso que nunca será uma meta em si mesmo, mas aquela “ferramenta” para depois continuar a aprender fazendo. Por isso, será tanto maior o sucesso quanto a vida do curso tiver lugar para as mais variadas experiências de vida, criatividade e de serviço à comunidade.
4. Os números europeus não nos são famosos: os estudantes portugueses são dos que menos participam na vida social e cultural da comunidade. É um facto, é um hábito (ainda) que habita as entranhas de muita da nossa cultura portuguesa, onde o deixar andar é regra.
Tal como “Aveiro é nosso!”, venha esse “choque cultural” de uma dinâmica motivação, pertença e presença, na vida cultural muito para além da especialidade de cada um...Quanto mais conhecermos, melhor serviremos! AC [25.09.2007]

Na Linha Da Utopia
Clima, o Processo!
1. Por estes dias um senador americano, Ernie Chamberes (do estado de Nebraska, EUA), apresentou um processo criminal contra “Deus”. A razão deste processo aberto no condado de Douglas é que, no pensar do jurista, “Deus” é o culpado pelas tragédias climáticas, tais como “inundações, furacões horríveis e terríveis tornados”. Nas terras do tio Sam em que tudo é possível, vem dizer, também, este processo, que a liberdade americana não tem limites, tendo mesmo a capacidade de apresentar um processo de tribunal contra “Deus”, esperando o jurista receber a resposta divina. (Há gente para tudo!)
2. Felizmente que este ridículo – tanto científico como teológico (na percepção sobre quem é Deus e sobre o que é a liberdade humana) - é facilmente destronado pelos comprovados dados científicos e (não sendo tal decisivo) mesmo pela opinião pública informada. O recente mega-inquérito da BBC em 21 países (a 22 mil pessoas) revela forte apoio popular no combate ao aquecimento global, sendo que a grande maioria sublinha ser preciso agir já e em escala global. A maioria das pessoas acha, assim, que o ser humano na sua ingerência é o responsável, não podendo os decisores (ainda que…) ficar de braços cruzados.
3. As verdades fundamentais não dependem nunca de inquéritos. Ainda assim, na base da razão e do bom-senso, o pensar colectivo hoje, felizmente, é de encarar a realidade, não desculpabilizando para outrem aquilo que é da responsabilidade humana. Bom seria que esse senador americano, em maturidade (humana, científica e teológica), não atirasse para a “serpente” aquilo que é determinado pela nossa liberdade (responsável ou não). E se ele fosse conversar com George W. Bush para “abrir” o entendimento do chefe de estado mais poluidor?! Assim não há condições!
4. Nestes dias o Secretário-Geral da ONU, Ban Ki-moon, põe dezenas de chefes de Estado e de governo a debater estas questões na cidade cómoda de Nova Iorque. Não sabemos lá como estará o tempo, se chove granizo, vendaval ou não! Mas que o clima seja de decisão ambiental. Só ela compensa, só por aí teremos futuro. Não será preciso, sequer ver as verdades de All Gore para concluirmos que todos temos de mudar este paradigma de (sub)desenvolvimento ambiental. Quanto mais tarde, pior! (Vai doer mas terá de ser!)
Alexandre Cruz [26.09.2007]

Na Linha Da Utopia
O Estado (da questão)
1. A liberdade anda perdida. A visão de liberdade que se proclama é mais a “exclusão neutralista” que o generoso acolhimento da diversidade valorativa. Para algumas mentalidades (pro)motoras, às quais a indiferença futebolística dá jeito, parece que ainda estamos na Revolução Francesa (1789), onde a “liberdade, igualdade e fraternidade” são unilaterais, só para alguns. A razão de Estado, até aí convergente e daí emergente, mais que acolher a riqueza da diversidade em dignidade da vida das pessoas, visa(va) impor o seu próprio modelo. Mais que uma liberdade que acontecesse na vida das pessoas, ela ganhava contornos de oposição bloqueadora da própria liberdade (pessoal e institucional). Pura ironia da história humana!
2. Qual o lugar das pessoas na decisão do Estado? Que margem de participação têm as pessoas a quem se dirige a lei aprovada? Quando legislação é sinónimo de imposição, temos a própria democracia em questão. Claro haverá a hierarquia de verdades, claro que nem tudo o que a maioria quer é automaticamente verdade com dignidade. A agenda do país está controlada, e nessa rede de (pre)ocupações tanto pouco lugar terão os excluídos da sociedade (sejam pobres sem curso ou com curso), como os que procuram cuidar o seu acompanhamento. Não sendo nenhuma diversidade proprietária de tudo, estes, conotados com isto ou com aquilo (esquecendo-se a agenda que o essencial é o serviço às pessoas), têm o campo de acção apertado, limitado, para fechar.
3. Pura ilusão, quando a razão de Estado asfixiará os próprios donos da agenda; eles também serão as vítimas da sua ilusão. Esquecem-se que as voltas da vida mudará os cenários e que um dia precisarão de cuidados médicos e, na humildade radical, de alguém que lhes dê uma “esperança”. O que faltará na profunda formação humana que nos venha, duma vez por todas, dizer que liberdade (não é exclusão da profundidade humana) mas será todos termos oportunidade de nos sentirmos em casa, cada um na sua diversidade de pensamento?! Há tanto a apre(e)nder! Mas até lá os estragos vão frutificando. (A última vergonha é o “afastamento” dos capelães hospitalares e da pessoa doente ter de “assinar” a sua vinda…! Para bom entendedor… Em liberdade, haja acolhimento de todas as perspectivas e não a sua exclusão. Para quê negar o próprio futuro). Felizmente nem tudo (ainda?) é assim; mas a liberdade anda sem cor! Alexandre Cruz [27.09.2007]

Na Linha Da Utopia
Implosão política?
1. Implusão? Certamente que não! Mas a conjuntura da eleição do líder partidário do maior partido da oposição confirmou como vamos andando. Claro que a actividade política, como fenómeno geral, não se esgota nos partidos, embora estes, com seus “aparelhos”, na hora da verdade, acabem por abafar outras opções. De quando em quando fala-se e vêem-se movimentos cívicos e mesmo outras novas formas de “participação” mas que, com pena, passado umas semanas, perdem a força por falta de estrutura própria acabando por ter vida breve.
2. O dizer-se que “cada país tem os políticos que merece”, além de ser comentário fácil e/ou mesmo de descomprometida analítica, sempre generalista, resulta em não acrescentar nada de bom e novo à realidade. Os fenómenos comunicacionais de hoje, que sobrepõem o entretenimento às questões de fundo (que o diga Santana Lopes na adiada Entrevista à Sic Notícias), acabam por ser o espelho de uma verdade cultural, da qual então se poderá dizer, isso sim, que “cada país tem os cidadãos que merece”, ou melhor: “cada país tem os cidadãos que tem (somos)!”
3. As recentes eleições do maior partido da oposição de feridas abertas merecem a maior atenção; como já antes haviam merecido a maior importância as eleições para a presidência da Câmara de Lisboa da qual saiu vitoriosa a abstenção. Tanto para os próprios como para o país, o “à deriva” confuso político-partidário é sempre sinal que deita a perder todas as boas intenções de todos. Fenómeno não novo e preocupante (por caricato) era tristemente interessante de observar na reclamação “ética” de ambas as partes, quando nenhuma delas tinha esse oxigénio vital de completa dignidade. Assim, não há condições!
4. Como edifício em implusão, diante de uma sempre inquietante abstenção cultural entretida, as bases de uma desejada credibilidade política vão ruindo. Não de fora, mas por dentro. Pior ainda! Mau para todos. Custando muito construir uma “torre”, num instante ela pode cair. Mas tudo continuará, a viagem humana sempre foi assim! Todavia, embora pareça interessante ao timoneiro do barco comum o desnorte alheio, não se pense que isso é bom… As eleições legislativas de 2009 trazem consigo o perigo da super-concentração do poder; isso sempre foi, no mínimo, menos bom (e por vezes mau)... A democracia real e dinâmica da liberdade precisa de oposições credíveis. Essa será a base saudável e autêntica de uma comunidade que sabe (con)viver com a diferença de opinião. Isso!
Alexandre Cruz [30.09.2007]

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