segunda-feira, 6 de abril de 2009

O FIO DO TEMPO
A complexidade da Justiça
1. Se a complexidade apresenta-se como um eixo de interpretação de todo quanto se move, então o “simplificar” com eficácia para actuar em conformidade será o lema a seguir. Não custa a compreender que sistemas como o de justiça, num mundo global que pula e a avança a toda a pressa, são facilmente surpreendidos e fintados com todas as mil-e-uma tecnologias que hoje têm poderes de comunicação e agilidade muito acima das instituições dos estados. A desarticulação actual entre as justiças nacionais e as sociedades efectivamente (nos valores e nos defeitos) transnacionais, apesar de instâncias que vão procurando responder aos novos desafios, essa desarticulação será hoje uma das grandes batalhas sociais a vencer.
2. Como agilizar a justiça quando ela tem de percorrer os seus trâmites legais que “comem” tanto tempo? Como chegar realmente a “horas” de justiça quando, a montante ou a jusante, o ritmo social é elevadíssimo e ao chegarem as instâncias próprias já tanta água passou por baixo da ponte que lavou todas as possíveis provas? As perguntas sobre esta ponte com a realidade, para uma sociedade eficientemente mais justa, poderiam não mais acabar, mas ficando-se com a sensação tão deficitária de um continuar a “ir a reboque” dos acontecimentos. Nas últimas semanas alguns processos polémicos e famosos têm sido arquivados por causa de provas. O povo sente a sensação de impunidade, esta que gera mais insegurança e instabilidade no pensamento de que porventura, afinal, o crime parece compensar...
3. Em matéria tão delicada o presidente do observatório da Justiça, professor Boaventura Sousa Santos, sublinha que «processos complexos exigem tratamento específico desde o início para não se perder prova.» Talvez esta seja uma luz a seguir, no tratamento diferenciado para se ser mais eficaz e não se ficar em águas dúbias ou mornas… Estes problemas são muito difíceis, mas o pior será considerar-se normal o que não o é nem pode ser.

domingo, 5 de abril de 2009

O FIO DO TEMPO
Dia Mundial da Juventude
1. Os jovens não são só o futuro, como por vezes se pode apontar. Para serem esse futuro terão de ser já PRESENTE. A juventude, melhor, as juventudes (sempre no plural das diversidades de visões e acções), é um fenómeno social relativamente recente. Não ainda há muitas décadas, de criança passava-se a adulto, sendo a juventude uma fase etária sem relevância. Felizmente que hoje os tempos são outros, mas com estas novas dimensões da vida social novas responsabilidades deverão caminhar a par. O mais errado que se pode considerar é à juventude tudo desculpabilizar, como se o que se faz de bem ou de mal não dependesse de sua autonomia.
2. Cidadãos em construção na sua formação, a juventude será uma das idades que mais poderá sofrer os embates das ideias que os adultos vão gerando. Quantas publicidades e propagandas procuram captar a atenção e condicionar a vida de quem tudo apreende e tudo o que for moda quer seguir…?! Neste sentido, poder-se-á dizer que a geração da juventude actual recebe na tecnologia os frutos da sementeira das últimas duas décadas, mas pode sofrer os abalos de um certo desprestígio a que foram deitados um conjunto de valores que se enraízam e alimentam na ética, essencial à coexistência de todos. Especialistas a manusear tecnologia, menos hábeis na arte de pensar de forma crítica e no empenho sócio-cultural e cívico, poderão ser estes alguns dos elementos caracterizadores provindos de estudos recentes.
3. Nos alvor dos anos 80, João Paulo II, o primeiro Papa global em comunicação com as Juventudes, sentindo a abertura planetária do mundo em exercício e no derrubar dos muros (de Berlim, 1989) como dos muros de possíveis visões de ocidente fechado ou de capitalismos sem éticas, abriu uma dimensão anual eclesial nova (no Domingo de Ramos): as Jornadas / Dias Mundiais da Juventude. Em 2009, na Diocese, foi celebrado em Sever do Vouga: a festa das Juventudes!

quinta-feira, 2 de abril de 2009

O FIO DO TEMPO
Semear a Não-violência
1. O mundo dos cinemas e dos noticiários são muitas vezes uma escola violenta. Vão proliferando algumas instâncias que procuram ser reguladoras dos níveis de violências mas que, efectivamente, poucos frutos parecem conseguir implementar. Há dias um pai de família com crianças de tenras idades manifestava uma profunda apreensão no facto de que a geração dos 10 anos, da geração de seu filho, comunicava entre si exuberantemente sobre os novos jogos informáticos cujos conteúdos são autêntica escola de crime, assalto, desregramento de vida. À insegurança social que se verifica cada dia junta-se uma lei do mais forte que parece imperar em tudo aquilo que são as formas mais fortes de comunicação actual.
2. Raro é o dia em que o crime violento não é notícia de destaque dos jornais ou que a televisão, mesmo em horários nobres, não ofereça uma programação forte, bem acima dos índices mínimos recomendáveis para os mais novos que tudo observam e absorvem. A mega concorrência que já há muito assume contornos de crispação (?) não consegue conviver com a razoabilidade de uma ética como escola de vida pessoal e colectiva. Depois admiramo-nos do estado de sítio, do simbolismo de casos gritantes de violência que perpassa em vários níveis da vida comum, das escolas às estradas públicas. Volta e meia, de alguns países vêm as piores notícias…, de algo que seria impensável entre humanos…
3. Como em tudo é essencial nunca generalizar, mas é imperativo não nos deixarmos conformar com aquilo que é uma sementeira que no dia-a-dia vai sendo plantada. Todo o rol de jogos sedutores para os mais novos, carregados de egoísmo, força e violência, não lidam bem com a educação para os valores da reconciliação e da paz. Toda a panóplia de tele-explicação meticulosa de como se processam os crimes não joga com os conselhos de responsabilidade educativa dos pais e da comunidade social. Há dados indesmentíveis, concretos e essenciais, que contradizem na prática toda a teoria do “está tudo bem” social. Ou não será?!

quarta-feira, 1 de abril de 2009

O FIO DO TEMPO
A cimeira da «Mudança»?
1. Uma carta aberta aos líderes europeus de um grupo de intelectuais e políticos do velho continente é mais uma forte achega para os compromissos e as responsabilidades indispensáveis a serem assumidos pelos primeiros responsáveis do G20, os vinte países mais industrializados e ricos do mundo, estes que se encontram reunidos em Londres. Decorrendo a cimeira na Europa, o conceituado analista «Timothy Garton Ash escreve na sua mais recente coluna do The Guardian que “a Europa será o grande ausente” da cimeira do G20.» (citado de Teresa de Sousa, Público 01-04-2009). A inquietude num mundo de crise em tempo mudança desafia todos a darem o melhor de si, os estados e os continentes regionais, como os trabalhadores, empresas, cidadãos.
2. A Carta Aberta aos líderes europeus antes da cimeira do G20, na base da consciência social, reclama toda a visão e capacidade de liderança em ordem ao melhor futuro. Refere o documento que «uma crise económica de grandes dimensões deveria trazer ao de cima o melhor da Europa», relembrando o melhor da memória da Europa pós-guerra. A pergunta e o desejo sobre o melhor, certamente, não se ficará pela questão de números económicos ou da preocupação da forte transferência de capitais e investimentos da Europa e América para a Nova Ásia. O «melhor», na tradição viva humanista que os pais da Europa tiveram como alicerce fundante, vai sempre ao encontro das ideias partilhadas que são luz de práticas.
3. Neste plano de uma ideologia que consiga aliar toda a esperança a todo o realismo, a cimeira acolhe pela primeira vez o presidente Norte-Americano, Obama. Deste continente EUA que demonstra capacidade de unidade no essencial a Europa também receberá o desafio de conseguir falar a uma só voz, mesmo que na diversidade das visões, algo que os responsáveis dos maiores países europeus continuam a revelar dificuldades. Também aqui, seja a cimeira da mudança (de mentalidade) comum!