quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

O FIO DO TEMPO
Deixar Acontecer Natal
1. O Natal representa talvez dos maiores pontos de convergência no mundo actual. São raros os acontecimentos que conseguem uma unidade tão explícita em torno de um essencial objectivo comum. Embora havendo diferentes interpretações, até em termos de calendário e a que se podem juntar mesmo as dúvidas exegéticas sobre a data e o local do Natal original, a verdade é que cada ano este acontecimento consegue congregar e motivar para valores e sentidos de confiança e vida renovados. Não vale a pena salientar os excessos da quadra, pois esses acabam por ser um crescendo desmedido que se foi multiplicando ao longo dos séculos e das últimas décadas.
2. Ao passar os olhos pela arte ocidental, pela história da música, pela literatura poética, todas as artes foram brindando o primeiro Natal, como um acontecimento inédito e intemporal. Dar razões e raízes ao Natal é tarefa que cabe a quem compreende o sentido e a alma de dignidade que está presente no (re)nascimento de Belém. Deixemos acontecer o espírito de Natal, daquele universalismo acolhedor, luminoso, puro, sadio, saudável em que nos lembramos mais da noção solidária que deve habitar cada presépio do coração humano, multiplicando-se para cada dia.
3. Os tempos que correm precisam mesmo do que o Natal significa. Não propriamente toda a força publicitária que mantém a quadra viva (e em que neste aspecto o Natal não está em perigo, pois cada ano o marketing lança-se mais cedo). Mas aquela alma viva e sempre nova do Natal, que alia a memória do passado de cada um de nós ao nosso presente e nos projecta no melhor futuro possível. O Natal silenciou a utopia da dignidade humana ser divina; é divina, inultrapassável! O acontecimento do exemplar nascimento de Deus Menino, acontecimento teológico, revela-se perturbador mas restaurador definitivo da nossa condição humana. Na gruta de Belém ou no estábulo, a irreverência da simplicidade deixa-nos a pensar e quer-nos transformar! Mas para tal é urgente não perder a memória de razão e proximidade do único Natal de todos os tempos!

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

O FIO DO TEMPO
Nós e as redes sociais
1. Aquele caso da mãe que, passado cinco horas, veio anunciar ao Facebook o falecimento de seu filho, ajuda, com toda a verdade, a compreender os alcances do novo mundo digital. As redes sociais estão aí, todos os dias, a gerar o que de bom e de menos bom a humanidade tem. Com todo o realismo, não se pode querer o sol na eira e a chuva no nabal quando efectivamente estes meios de comunicação são reflexo da verdade diária do que acontece a cada momento. Talvez esta nova ordem da comunicação seja a maior revolução de todas em toda a história humana. O “tempo real” pode ser acompanhado como nunca por todos; para o “ar” do espaço público mundial pode vir tudo o que alguém quiser que apareça. Existam critérios, bom senso, pressupostos dignos e humanos naquilo que se põe no ar.
2. A certa altura pode-se dizer que nestas coisas das redes sociais, é um facto, tudo o que vem à rede é peixe! Isto é, o que aparece existe. Temos dificuldade em perceber se estamos preparados para o que der e vier, quando se sabe que, certamente, os registos em directo das graças ou das desgraças virão à luz do dia e estarão disponíveis continuamente na sociedade global. Quem não se lembra daquele caso da turma a desrespeitar a professora com gravação de aluno ao telemóvel e rapidamente disponibilizada na internet; quem não se lembra de… A verdade mais certa é a de que todos os mil e um instrumentos da comunicação não têm qualquer culpa do conteúdo que neles circula. Repense o utilizador!
3. Até quando esta viagem fantástica mas perigosa chegará? A partir de que momento estaremos no ponto de saturação? Como a aproximação global das virtudes mas das também diferenças vai conseguir fazer prevalecer a existência comum? Estará o mundo culturalmente preparado para a nova consciência global que cresce cada dia? Semear para colher, é o lema que dá razões à esperança no futuro. A mensagem «Feliz Natal» é a que enche o mundo virtual nestes dias. Seja cada dia!

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

O FIO DO TEMPO
As raizes da transparência
1. A «transparência» vai-se afirmando como um valor inalienável em ordem à clareza dos tempos futuros. A própria recente Cimeira de Copenhaga, nas suas ambíguas lutas de argumentação, trouxe para o cimo da mesa a necessidade de um realismo vigilante em termos de aplicação de decisões, caminho este que só é possível com a transparência, a partilha de informação, o sentido de bem comum. À medida que nos estados ditos de organizados a corrupção foi alastrando salienta-se, simultaneamente, o emergir de instâncias que vêm zelar pela responsabilidade esquecida. Novos e admiráveis passos de progresso técnico são dados cada dia, mas estes não conseguem travar a dificuldade de preservar os territórios da transparência e da verdade de não querer acima daquilo que é o “dever ser”. Planos inclinados…
2. Geram-se novos conhecimentos, ultrapassam-se as fronteiras das éticas e depois criam-se novas organizações pela defesa daqueles valores que deveriam de ser pressupostos numa sociedade dita de humana. Um dia destes demos conta em notícia da existência da Transparency International, uma prestigiada ONG (organização não governamental) que luta contra a corrupção. Este organismo está em fase de entrada e instalação em Portugal, um dos três países da Europa em que ainda não tem ligações. Esta entrada de Portugal vai ter direito a vir nas listagens internacionais, já que no mundo a Transparency International é a instância que publica o único ranking de corrupção mundial e que trabalha com a ONU.
3. Está fora de questão que é essencial todo o esforço purificador no sentido da verdade, da justiça e da transparência, isto é, verdade partilhada. Mas não existam dúvidas que tal como os valores fundamentais que dão sentido à vida não surgem por decreto, assim também o fim da corrupção não é algo que brote pela negativa (penalização do corrupto) mas pela consciência da ética e do dever de viver com os outros. Há raízes mais profundas que organizações ou decretos.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

O FIO DO TEMPO
Dos fins aos princípios
1. Não é novidade que diante da tempestade é que se dá valor à bonança ou que quando estamos doentes é que damos mais valor à saúde. Esta experiência adquirida da vida diária haveria de ser transferida para patamares da ordem da saúde global dos grandes valores. Sendo interessante, não será necessário aprofundar obras paradigmáticas como «O fim da história e o último homem» (1992) de Francis Fukuyama ou a sua resposta no ensaio «O choque de civilizações e a recomposição da nova ordem mundial» (1996) de Samuel Huntington para nos apercebermos de que a temática da mudança de paradigmas pode ser comparada a um “fim” que abre novas janelas de compreensão de tudo o que nos rodeia. Não por se estar em final de ano 2009, mas se fizermos o corajoso exercício de nos situarmos nos diversos fins que poderão existir em termos pessoais, sociais ou globais, chegamos à conclusão de que é urgente relativizamos os acessórios e valorizarmos os grandes princípios.
2. Vem esta breve nota de reflexão a propósito do “vai-e-vem” que temos assistido na decisiva Cimeira de Copenhaga, acerca da questão inadiável da coragem em assumir medidas no que se refere às questões do ambiente. Torna-se complexa a aprendizagem deste exercício de considerar que é importante o pensar a sério sobre a sobrevivência da Humanidade, de ler como possibilidade que não é só “cinema” o que imensos documentários mostram como apelo ao arrepio enquanto há algum tempo. Cada vez mais que vamos observando que os grandes problemas (e os mais importantes situam-se nos terrenos dos “fins”) precisam de um olhar cruzado de todos os saberes (comprove-se a interdisciplinaridade assumida nas gerontologias…!), assim também sendo os pareceres técnicos fundamentais e decisivos para decisões políticas conscientes, a verdade é que os índices de SABEDORIA humana, serão o elo capaz de gerar o consenso salvador.
3. Sempre que se enaltece algum sentido acusatório (na Cimeira: pobres versus ricos), estamos longe da urgente (cons)ciência COMUM!

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

O FIO DO TEMPO
A sobriedade infantil
1. A quadra, nas propostas aliciantes de consumo, é de forte apelo à quantidade. Não faltam em todos os escaparates as mil e uma ofertas com as mais variadas vantagens para outras tantas situações em que o gerar do hábito e da necessidade é a arma mais poderosa. Ninguém está obrigado a comprar, é certo. Mas a designada sociedade de consumo tem neste mês o pico mais visível. A necessária educação para o consumo, no pressuposto lógico da “liberdade de comprar”, tem nestas quadras razões maiores para se justificar, mas estas são precisamente as alturas em que, mesmo sem qualquer generalização, a reflexão sobre os hábitos de consumo mais se manifesta infecunda. Gilles Lipovetsky, autor da Era do Vazio, na sua obra Felicidade Paradoxal (2008), bem tentou compreender os contornos do hiper-consumo.
2. A sobriedade nos tempos actuais reveste-se como um valor fundamental, pois ela traz consigo o importante discernimento entre aquilo que é o essencial e o que é o supérfluo que não interessa, o demasiado que atrapalha, fecha, cega e limita. Como reage uma criança diante de um castelo de prendas? Claro que diante dessa montanha russa de presentes deseja ao menos uma para sua satisfação! Sendo natural, não se pode deixar que a reflexão sobre os hábitos de consumos seja ela própria uma rotina em ciclo fechado. As desvantagens do exagerado e as vantagens da sobriedade simples que dá valor ao essencial e dá sentido à vida, precisam de ser destacadas. Como a onda que cresce, a publicidade incendeia o destinatário e o fermento gerador da necessidade cresce a ponto de gerar exclusões de consumo…
3. Tornando-se importante uma reflexão actualizada sobre o lugar da prenda de Natal (Natal?), sublinhe-se a urgência das idades maiores ajudarem os mais novos a pensar sobre as razões da festa e o porquê da necessária sobriedade de vida… A idade infantil actual não pode ser o novo deus intocável, descartada de qualquer índice de hábitos de sobriedade e simplicidade.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

O FIO DO TEMPO
O novo elogio da loucura?
1. Decorria o início do século XVI e a sociedade europeia vivia sobressaltos de nunca vista desumanidade. A exploração escrava de outros povos descobertos, o egoísmo da riqueza e as cruéis guerras religiosas no coração da Europa registaram nos anais da história das piores páginas de sempre. Neste duro ambiente, alguns grandes autores procuraram interpretar o seu tempo propondo caminhos a seguir de forma humana e digna. Algumas dessas grandes personalidades inscreveram-se no chamado pensamento da renascença, o qual proporcionou uma recriação actualizada das ideias e artes clássicas. Se o problema da sociedade da época era humano, estes autores apostaram na resolução da “questão antropológica” (ou seja, do repensar o agir humano).
2. Erasmo de Roterdão (1466-1536), essencial personalidade da renascença, escreve no ano de 1509 e publica em 1511, o famoso ensaio O Elogio da Loucura. Trata-se de uma obra, segundo especialistas, das mais influentes da civilização ocidental, sendo um dos catalisadores da designada Reforma Protestante. O Elogio da Loucura, em que a loucura é comparada a uma deusa, espelha os cenários de uma época controversa, através da sátira, do sombrio, da prática supersticiosa, da corrupção, da indignidade, do crime horrendo, num cortejo de miserabilidade sem limites. Tratava-se, fundamentalmente, do elogio de acontecimentos, posturas e coisas sem qualquer valor. Uma contradição, espelho de total vazio.
3. A que propósito vem esta temática? Há semanas quando dos rasgados elogios do presidente do Irão ao presidente da Venezuela, e deste ao presidente do Irão, lembrámo-nos do povo desses países e da estranha razão para tanto “elogio”. Decorria, então, a visita com “glamour” do presidente iraniano pela América latina, na procura jubilosa de angariar parceiros para a sua causa… Diz-se que a “questão antropológica” (sobre quem é o ser humano?) está na ordem do dia… Não há razões para tanto elogio, porquanto o estado do povo é que deve falar pelo líder…!
O FIO DO TEMPO
O hino de Ser Humano
1. Foi a 10 de Dezembro de 1948 que a Assembleia-Geral das Nações Unidas aprovou o “ideal comum a ser atingido por todos os povos”, a Declaração Universal dos Direitos Humanos (DH). Daí para cá este documento vivo que celebra 61 anos, foi sendo desdobrado em muitas outras declarações aplicando ao concreto os valores humanísticos universais nela contidos. Algumas diferenciações claras de fundo importará salientar: primeiro, que a presente Declaração dos DH não contém só “direitos” mas compreende-os numa leitura transversal de deveres e responsabilidades partilhadas; segundo, no exercício do diálogo desta Declaração com a (anterior) Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (1789), da Revolução Francesa e do erguer do Estado de Direito, esta última (um avanço em alguns domínios para a época) apresenta-se orientada para mais para os direitos de cidadania que para os direitos humanos.
2. A última diferenciação é clarificadora: os direitos de cidadania aplicam-se em países de cidadania legalmente organizada e com “cartões de cidadão”; já os direitos humanos são anteriores a qualquer Estado de Direito, fluem da condição e da dignidade da pessoa humana, esta que é fonte de esperança em nações onde o exercício das cidadanias está longe de ser visível ou então ilumina comunidades estatais legalistas para saberem ler mais alto e mais longe. Um outro aspecto vai sendo hoje sublinhado: a elaboração admirável da Declaração de há 61 anos, após a II grande guerra no centro da Europa, tem a marca civilizacional euro-Ocidental. Um grande valor partilhado universalmente, mas que na era da globalização pode resultar em limites de compreensão.
3. Desçamos ao concreto, como deve ser, e às grandes sensibilizações destes dias que em AVEIRO também assinalam este acontecimento. Em ampla parceria da Plataforma Aveiro DH (http://aveirodh.wordpress.com/), coordenada por algumas entidades, é a ser levada a efeito (convite aberto) a FEIRA DOS DIREITOS HUMANOS 2009 na Praça Marquês de Pombal.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

O FIO DO TEMPO
Para que seja Natal
1. Já há longas semanas que os brilhos típicos da quadra de Natal estão nas ruas e avenidas por onde correm as gentes. Esta corrida reveste-se também da preocupação preparadora das festividades que se aproximam… Em termos de efemérides, o próprio mês de Dezembro mostra-se sensibilizante em termos de causas e valores natalícios a assumir: dia 3 de Dezembro foi dia (para que o seja todos os dias) dedicado à pessoa com deficiência, dia 5 enaltecedor dos Voluntários (Dia Internacional dos Voluntários) e dia 10 será o grande dia dos Direitos Humanos, também em Aveiro assinalado com um conjunto de iniciativas e sensibilizações. Já em finais de Novembro, início de Dezembro, havia ocorrido a campanha do Banco Alimentar contra a Fome.
2. Torna-se importante, no mundo especializado em tantas ligações tecnológicas, ligar o que de humano e bom existe; promovê-lo e enaltecê-lo para que cresça cada vez mais e diminua aquilo que são as “ervas daninhas” de qualquer comunidade social. As referências de iniciativas em rede multiplicam-se e procuram interpretar o mês do Natal como um eco para todos os dias dos meses e dos anos. Querendo esta quadra no plano das ideias, a partir da raiz única do Natal de há 2000 anos, gerar a vivência da igualdade em termos de dignidade humana (que reflecte a divina), a verdade é que a persistência prática das desigualdades faz com que o contraste se avolume na época do Natal. Todos os gestos tão sensibilizantes para tantas situações de “frio social” acabam por ser sempre pequenos para problemas tão grandes e problemáticas…
3. Verificam-se nestes dias essas preocupadas corridas de preparação do Natal gordo em que não há tempo para o gesto (seja global!) que suavize e promova para a autonomia e dignidade a magreza do sem lar, sem pão, … A autenticidade do Natal verdadeiro será sempre desconcertante; este tem mais dificuldades em conseguir fazer passar a mensagem. Quem dera que a grandeza de tantos gesto de tanta gente fosse o milagre do Natal universal. Preparemo-lo, melhor, sejamo-lo! É essa a maior luz!

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

O FIO DO TEMPO
A fuga ao fracasso?
1. Aproximam-se os dias da verdade sobre o que queremos (ou não queremos) em relação ao futuro da Humanidade. Já há muito que as questões ambientais deixaram de ser uma “moda” de modernidade ou tidas como algo de “esquisito” em relação à normalidade; aliás, para haver normalidade e futuro respirável cada cimeira ou encontro sobre as alterações climáticas vão sendo passos que se afirmam decisivos e inadiáveis. Decorrerá de 7 a 18 de Dezembro a Cimeira de Copenhaga, de onde se espera que saia o novo acordo global sobre as questões ambientais, vindo substituir o Protocolo de Quioto (1988). A pressão cresce em todos os quadrantes. Sublinha o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, que seria «moralmente indesculpável» o fracasso da Cimeira que está a chegar. A-ver-vamos…!
2. É verdade puríssima que os índices de responsabilidade cresce à medida que a ciência e o conhecimento vão demonstrando a evidência dos factos; é «verdade inconveniente» (Al Gore, 2006) que não se poderá ver com olhar simplista um processo de mudança de comportamentos e atitudes, mas que urge mudar estabelecendo padrões de vida sustentável, o que se vai confirmando como a única tábua de salvação. As alterações climáticas, no dizer de Ban Ki-moon «são a questão dominante da geopolítica e economia mundiais do século XXI, uma questão que afecta a equação mundial do desenvolvimento, da paz e da prosperidade.» Diremos que se não vamos lá (por um humanismo saudável e) pela via “razão”, teremos de ir mesmo pela estrada da tempestade e do medo.
3. Desconcertante é a afirmação do “pai” dos alertas das alterações climáticas, James Hansen, quando ele diz em entrevista ao The Guardian que «é preferível que a Cimeira de Copenhaga falhe». Talvez Hansen diga isto para alarmar, sabendo como são as boas (mas estéreis) intenções; ele considera este ser «o desafio moral do século». Tem razão, ou não dê a própria sobrevivência (em causa) razões para repensar a vivência!

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

O FIO DO TEMPO
O fenómeno Dudamel
1. Não é nenhum jogador de futebol genial, mas vive a música como se de um jogo admirável se tratasse. Vale a pena parar diante deste maestro venezuelano de 28 anos apenas que tem o mundo a seus pés. Gustavo Dudamel é hoje sinal do poder que a música pode ter no que se refere às virtualidades de transformação social que a arte transporta. Criador do que ele chama o «sistema» musical na Venezuela, viu que para as crianças dos bairros mais pobres o carregar do violino e clarinete, o estar em ensaios de saber ouvir em grupo, o acolher a inteligência emocional da melodia, tudo isto poderia ser um pólo de motivação sem precedentes para a própria vida diária, em ordem à implementação da confiança no futuro. O nome de «Dudamel» já é uma poderosa imagem de marca que se vai estendendo por muitos países do mundo inteiro...
2. Tendo Dudamel neste 2 de Novembro estado em Portugal, na Fundação Gulbenkian para dirigir a Orquestra Juvenil Ibero-Americana, o maestro vive os seus dias entre a visibilidade mediática de Los Angeles, o “retiro” de Gotemburgo e a sua casa natal da Venezuela, que nunca abandonará. No mundo musical todos os querem pela sua energia única; aclamações são imensas: de personalidades que dizem que casos como Dudamel «surgem em cada cem anos», até ao próprio génio maestro Daniel Barenboim para quem «Gustavo tem um talento sem limites». A sua chegada em Setembro último para dirigir a prestigiada orquestra de Los Angeles marca o ponto sem retorno que deixará na história da música gravado o nome Dudamel.
3. À nossa cultura musical, ao potencial que a música poderia ser para aprender matemática, ao lugar dado às personalidades com capacidade de influência nas opções pela música no mundo da escola formal ou informal, a todos os têm capacidade de se deixarem sensibilizar com a arte, a poética e a música... faz bem conhecer histórias de vida em «Sol +» como Dudamel, não só pelo génio pessoal, mas pela capacidade (trans)formadora social.
O FIO DO TEMPO
1640 e a actualidade
1. Existem datas históricas que, por motivos vários (mas normalmente pela heróica capacidade superadora das limitações), fazem parte da memória viva das comunidades nacionais e/ou mesmo da própria comunidade internacional. Na história de Portugal o acontecimento da Restauração da Independência (1 de Dezembro de 1640) escreve uma página em que pelos relatos da época a heroicidade saiu vencedora da própria lógica racional pessimista, pois onde é que de um país já na altura tão “pequeno” poderia haver tanta força para superar as vizinhas armadas; quer a espanhola, quer a “armada” paralisante da pessimista visão lusitana que por esse tempo começou astronomicamente a crescer arrastando consigo os séculos seguintes.
2. Mesmo sem os providencialismos mitológicos que poderiam conduzir a outras reflexões, a verdade é que, após o desvio do planeamento estratégico que está na matriz dos portugueses – o «globalismo» – para as “areias marroquinas” que liquidaram D. Sebastião (1578) em Alcácer Quibir e abriram a Batalha da Sucessão, da crise reinante pelos tempos de 1640 as gentes do povo português souberam construir terreno fértil e tirar partido das conjunturas para ser possível a Restauração de «1 de Dezembro de 1640». Sublinham os estudiosos dessa conturbada época que: 1º, a nobreza portuguesa no geral e por razões de comodidade, estava orientada para o reinado ibérico (da fusão Portugal – Espanha); 2º, um homem providencial (Pe António Vieira) conseguiu alimentar a alma das forças vitais diante da frágil independência, esta que só se deu por formalizada após 28 anos (1668).
3. Há dias, ao ouvir o Prós-e-Contras sobre a crise das finanças nacionais, as suas questões estruturais que se arrastam, veio à memória esta história que nos precede em acontecimentos “gloriosos”, mas que nos persegue numa limitação de implementação histórica de tantas excelentes ideias (irrealizáveis). Um novo realismo social poderá salvar-nos? O nome do Povo é sociedade civil.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

O FIO DO TEMPO
Alimentar o pão da esperança
1. Este fim-de-semana decorre a nível nacional a campanha do Banco Alimentar contra a Fome. Não é publicidade, são milhares de toneladas de alimentos partilhados, são milhares de voluntários pelo país inteiro, são milhões de pessoas generosas que partilham das suas possibilidades com quem nada tem. É um facto: matar a fome primeiro, formar e reformar para que a fome não exista vem depois. São centenas as instituições que ao longo do ano beneficiam desta corrente solidária que marca um sinal de solidariedade no nosso país. Quem diria há alguns anos que a campanha do Banco Alimentar se viesse a tornar a enorme esperança de pão para muitos que hoje representa?
2. Sabe-se que o dar o peixe é sempre pouco e que o ensinar a pescar representa o passo formativo em ordem ao futuro efectivamente melhor e mais comprometido. Mas às bocas sem pão, à fome que existe habitualmente e mesmo à nova fome escondida como consequência das recentes crises, o “pão” é que salva, pois ele é que pode dar a força ao corpo e garantir os mínimos da dignidade a que cada pessoa humana tem direito. Tal como é verdade que o pão garantido aumenta a esperança de o ganhar cada dia, do mesmo modo o contrário também se confirma: quando o pão não existe «todos ralham», a desmotivação cresce, o desespero amplia-se, o lar familiar pode entrar numa espiral descendente onde tudo é negro e tudo parece amargo e perdido.
3. O frio está a começar a apertar, para todos, com abrigo ou sem abrigo. O abandono às noites das grandes cidades, local como mundialmente, reflectem a brisa de muita solidão que teima em manter-se, quando não um cortejo a ampliar-se. Esta dura realidade solitária interpela todos e os proclamados modelos de desenvolvimento. Estes dias que abrem o mês de Dezembro apelam-nos à nobreza do essencial da vida para que a partilha seja dar-se a si mesmo numa esperança que irradie dias melhores para todos. O pão da esperança precisa mesmo de todos!

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

O FIO DO TEMPO
A média europeia da Educação
1. É notícia recente que Portugal está abaixo da médica europeia em termos de educação. Destacam-se em relatório divulgado os progressos tidos de 2000 a 2008, mas a procura a convergência nota-se retardadora. Do olhar cruzado pelas estatísticas, sente-se que a fase da adolescência se afirma como decisiva e destacam-se, no que já se sabe, as dificuldades na matemática e na área de língua e leitura. Sendo certo que as visões comparativas são necessárias e que os isolacionismos a nada conduzem, também não deixa de ser digno de registo aquilo que em termos de médias europeias se considera a média, como se o criar de uma uniformidade de paradigmas e no processo ensino/ aprendizagem fosse a meta fundamental a atingir.
2. Compreende-se que a competitividade de tudo e todos obrigue a uma equiparação competitiva sem precedentes. Este factor pode criar mentalidades e paradigmas que correm o perigo de uniformizar tudo e europeizar os europeus deitando a perder riquezas locais de ordem social, educativa e cultural. É, neste contexto, importante relançar a dúvida sobre se a uniformização é, de facto, factor e valor de progresso definitivo ou se deverá ser reforçado o lugar às identidades nacionais e locais por forma à justa harmonização social. Aos estudos e estatísticas presidem sempre a noção de modelos de referência globais, o que é lícito e natural. Mas esta hegemonização poderá limitar e abafar aquilo que pode ser o génio da diferença, ou os aspectos essenciais que não dando números para a “média” são efectivamente relevantes.
3. O documento estruturante europeu, a Estratégia de Lisboa (adoptada em 2000) quer transformar a Europa «na economia do conhecimento mais competitiva e dinâmica do mundo, capaz de um crescimento económico sustentável, acompanhado da melhoria quantitativa e qualitativa do emprego e de maior coesão social.» Esta é a média final europeia a que se quer chegar. E o lastro e espaço dado à diversidade local dos “alunos”?

terça-feira, 24 de novembro de 2009

O FIO DO TEMPO
Ciência e tecnologia
1. A ciência e a tecnologia (ciência aplicada à técnica) são das maiores conquistas da razão humana. A curiosidade sistemática na cuidada observação, a conjugação de múltiplas hipóteses satisfatórias, a experimentação no perscrutar das leis que presidem à natureza e a sua aplicação também na descoberta e solução de problemas do mundo visível, são das realizações mais fascinantes da aventura humana. De todas as idades e condições, em todos os tempos e lugares da história, a curiosidade aliada à sempre procurada resolução de problemas, têm feito da ciência um caminho que usamos e aplicamos nas coisas mais simples do dia-a-dia. Mas todo o potencial de conhecimento científico por si mesmo não chega; a sua aplicação ética nas finalidades haverá de presidir à própria pesquisa no caminho.
2. Estamos em plena Semana da Ciência e Tecnologia. O Dia Nacional da Cultura Científica (24 de Novembro), criado em 1997 para assinalar o nascimento do cientista Rómulo de Carvalho (1906-1997), procura precisamente corresponder à necessária promoção da cultura científica e do ensino generalizado da ciência. Sem divulgação científica não existe consequentemente aquele necessário despertar para o mundo do conhecimento; não como meros transmissores mas como criadores e inovadores. Também sem motivações nobres, a ciência pode-se desviar do seu caminho ético e de serviço à Humanidade global. Fronteiras delicadas, sensíveis mas incontornáveis, nas quais os próprios índices de esperançosa e persistente motivação interior são um dos elos fortes do autêntico, grande e humilde, cientista.
3. A Universidade de Aveiro esta semana é um grandioso laboratório, acolhedor de muitos milhares de estudantes, nesta X Semana Aberta da Ciência e Tecnologia, de 23 a 27 de Nov.: http://www.ua.pt/semanaberta Este ano novos passos são dados: tanto no caminho da ciência solidária onde os visitantes são convidados a partilhar, como nas redes sociais que hoje nos unem ao mundo.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

O FIO DO TEMPO
«We are the children»
1.
Os anos oitenta estão a ser olhados com visão de quem procura apreciar e aprofundar algumas conquistas fundamentais. Se há dias (9 de Novembro) lembraram-se os 20 anos da queda do Muro de Berlim, nestes dias mais recentes as duas décadas d’A CONVENÇÃO SOBRE OS DIREITOS DA CRIANÇA, adoptada pela Assembleia-Geral da ONU a 20 de Novembro de 1989, tendo sido ratificada por Portugal no ano seguinte, a 21 de Setembro de 1990. Dos considerandos do preâmbulo ao texto retira-se um oportuno olhar histórico na consciência de que sendo as crianças o “futuro” já presente, daqui derivarão para todas as latitudes, pensamentos e acções, altíssimas responsabilidades em ser presença promotora dos melhores valores socioeducativos.
2. Destaca-se a certeza ideal no reconhecimento de que «a criança, para o desenvolvimento harmonioso da sua personalidade, deve crescer num ambiente familiar, em clima de felicidade, amor e compreensão». Este espírito familiar e universalista que preside à Convenção sobre os Direitos da Criança está enraizado na Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948. Dos anos oitenta até ao presente não só aumentou a visibilidade mundial de ocorrências infelizes em relação aos muitos ataques à dignidade da criança, como também se verificou um crescer de condições excepcionais para com as crianças da parte do mundo ocidental. Para as outras, muita fome e miséria a que o mundo assiste; para estas a certeza de uma superabundância de pão e presentes plastificados que podem truncar a humanidade.
3. Quem não se lembra da canção We are the World, we are the children (USA for África, 1985) dos anos oitenta, como que no mesmo espírito da Convenção. Ao ouvirmos essa música pela rádio nestes dias lembra a aventura que terá sido essa década, a abertura do mundo ao próprio mundo e o acolhimento local das declarações universais. Precisamos de novas músicas / mensagens que transformem razões em pontes humanistas.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

O FIO DO TEMPO
A apologia da inquietude
1. A inquietude não se dá bem com a passividade e a indiferença. Das frases gravadas de Fernando Nobre (médico fundador e presidente da AMI) é aquela que nos diz que no mundo de hoje os dois males principais são a indiferença e a intolerância. Conclui deste modo quem percorre o mundo, seja fisicamente seja mentalmente. Não é preciso andar quilómetros para a intuição daqueles valores fundamentais a que como humanidade somos chamados. Cada vez que na rua observamos os mais novos dependentes de todas as tecnologias em que o olhar já não tem largueza para a relação pessoal, ou que dos poderes da comunicação ou do marketing a mensagem se revela num aliciante interesseiro sem grandes causas generosas…estas realidades, entre tantas outras, obrigam-nos a repensar hoje o lugar das inquietudes e do futuro.
2. Quando se ouve a (des)consideração que existe pela autoridade saudável, nas escolas, no trabalho ou até pelo bloqueio que se sente no diálogo de gerações dentro da mesma casa; ou quando se sente que o «não pensar» é a mais cómoda das opções gerando a apatia do «tanto faz»… faz-nos sentir o quanto urgente se torna o despertar dos sentidos humanos para sabedorias humanísticas que dêem razões e fundamentos para viver e existir de forma reflectida. O tempo actual, num adormecimento sedutor por mil e umas formas de diversão e entretenimento, precisa de resgatar a INQUIETUDE como atitude existencial e comunitária. A consciência de que o amanhã pode ser sempre melhor que o hoje e o ontem é uma aprendizagem de sabedoria intransferível, que ninguém pode viver pelo outro.
3. Dizia há alguns anos D. José Policarpo que A «felicidade não se pode confundir com facilidade». O mundo das facilidades publicitadas também tem gerado aquela ilusão que afinal não existe mas gera fragilidades de pensamentos e acções. Floresça uma apologia da inquietude, na lembrança continuamente despertadora do compromisso em cada amanhecer!

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

O FIO DO TEMPO
Por trás da fome de pão
1. Todos concordam que o direito à alimentação e, por consequência, à sobrevivência, é um direito básico que nem precisa de ser recordado e afirmado em declarações. Mas as declarações também o escrevem e a própria Declaração do Milénio num dos seus objectivos consagra valor urgentíssimo o terminar com a fome no mundo. Foi criada a FAO (16-10-1945), instância das Nações Unidas para as preocupações da agricultura e alimentação do mundo. Mas os cenários da fome e a (in)sobrevivência nesta matéria afirmam-se com preocupação crescente. De modo transversal, aumenta o conhecimento, tanto em termos de produção alimentar mas também dos riscos da manipulação genética dos alimentos; a própria canalização de cereais para fins de biocombustíveis cresce e tudo diante da galopante classe médica asiática que vai alterar o paradigma tido até ao início deste milénio.
2. Decorreu nestes dias em Roma a Cimeira da FAO, mas sem todos os G8 (os países mais ricos do mundo). O secretário-geral da ONU foi forte ao recordar que a cada seis segundos morre uma criança de fome… Os dados, no seu realismo, são chocantes. Sendo certo que nada se pode fazer sem planificação e concertação, esta é uma área de actuação diplomática onde a natureza jurídica dos papéis se mostra insignificante diante da crueldade da multidão faminta em contraste com a fartura de alguns. Como em tantas outras questões, o primeiro passo será a alteração de comportamentos no não estragar comida, numa visão dignificante da alimentação e no gerar a corrente positiva/solidária. Por trás da fome de pão impera a fome de justiça, valores e verdade? Como mudar?
3. (Nota – correcção de gralha: os dez minutos de pausa diária na escrita d’O FIO DO TEMPO fizeram com que no texto de ontem A FACE CULTA constasse uma gralha. O texto certo é: «À situação actual de Portugal estes cenários “face oculta” era tudo o que menos se esperava, esta observada crise de instituições na área da justiça que aliada à desconfiança e suspeita de redes de corrupções, trazem para o cimo da mesa do pior que se pode esperar…»)

terça-feira, 17 de novembro de 2009

O FIO DO TEMPO
A face culta
1. Podem-se citar muitos autores que claramente mostram a desvantagem da corrupção. Entre eles poderá estar António Vieira (1608-1697), na portugalidade, ou Tomás Moro (1478-1535) na época da renascença. Pode-se dizer efectivamente que a ignorância é mãe de muitas guerras; do mesmo modo se poderá tirar a ilação de que a ilusão do poder ou do ter, a par da incultura, podem ser alimento de desvio, corrupção, conluio. À situação actual de Portugal estes cenários «face oculta» era tudo o que menos se esperava, esta observada crise de instituições na área da justiça que aliada à desconfiança e suspeita de redes de corrupções, trazem para o cimo da mesa do prior que se pode esperar… Sem dramatizar mas sem ocultar, a verdade é que o nível de insegurança ética rasteja por marés nunca dantes navegadas.
2. O que vem à luz do dia é o que existe de facto. Se durante dias ou anos se pode ocultar, como o azeite a verdade acabará por mostrar a sua face. Por trás de qualquer face existem ideias, planos, projectos, valores, princípios pelos quais o caminho é percorrido. Quanto menos por trás da face – no plano da existência e dos grande valores solidários – se construir o projecto de vida, tanto mais os critérios que presidem às acções poderão ser falaciosos. Como dizia o padre António Vieira, «são as acções que fazem o ser». Neste sentido, poderemos dizer, o ser deverá ser bem construído no plano da ética para que as acções sejam conforme o melhor para o bem pessoal e social…para o não embarcar na ilusão inculta do ter desmedido.
3. Talvez o verniz que continua a estalar em tantos planos, nacionais e internacionais, continue a demonstrar que, embora cada vez mais especialistas em tecnologias, a verdade é que no plano da ética universal o desfasamento continua a crescente e avassalador. Claro que tudo depende do olhar: para faces habituadas a paisagens cheias de nuvens de relativismos, poderá ser só mais um caso que passa…Para quem procura a integridade e observa o panorama das mensagens sociais que se passam, é no mínimo alarmante.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

O FIO DO TEMPO
Pensar e actuar no bem comum
1. As Semanas Sociais organizadas pela CEP são uma das realizações de referência no panorama nacional no que à questão social do país diz respeito. Reflectir qualificadamente para melhor envolver no agir é sempre a finalidade desses dias de reflexão que este ano ocorrerão em Aveiro. Com o lema «A construção do Bem Comum – responsabilidade da Pessoa, da Igreja e do Estado», procura-se nesta Semana Social 2009 gerar equilíbrios e sentidos de unidade naquilo que se procura realizar na promoção de uma sociedade melhor. Um conjunto reconhecido de intervenientes da sociedade portuguesa dão o seu contributo nessa jornada de três dias (20 a 22 de Novembro) a decorrer no Centro Cultural e de Congressos de Aveiro.
2. A noção de bem comum, por felicíssima que se apresenta na sua elaboração de matriz originária eclesial e social, resulta da conjugação de factores absoluta a transversalmente inclusivos: privilegia a Pessoa mas evita o individualismo; tem presente a função social do Estado mas não avança por uma noção estatizante que poderia asfixiar a vitalidade da sociedade civil; procura situar o particular e o universal no seu plano próprio e insubstituível; aposta na subsidariedade que promove as pessoas e fortalece as comunidades; valoriza aquilo que pode gerar complementaridade diluindo, também desse modo, aquilo que pode ser a combatividade das contraposições. No fundo o «bem comum» é o caminho certo na procura do bem pessoal e social numa aproximação à verdade do Bem e Belo que o ser humano procura atingir.
3. Numa sociedade chamada a atingir a maturidade cívica, todos os actores que procurem a promoção do «bem» que seja reflectido encontram-se no mesmo caminho do melhor para a viagem da humanidade. Dos muros construir pontes com a colaboração de todos, eis o palco onde todos os cidadãos humanos são convidados a serem actores. Demos força e espaço cultural e social aberto ao que (e a quem) pode (re)unir!

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

O FIO DO TEMPO
As côdeas de broa
1. O ambiente emocional anda muito por baixo. Quem ouve de carro na estrada os fóruns da participação pública nas rádios mais conceituadas do país fica alarmado com o panorama da (des)motivação. Parece nem tanto perturbar o fenómeno da pobreza ou da crise, mas afirma-se bem mais preocupante o cenário relativo aos baixos índices da desconfiança confirmada por cada caso de corrupção que vem à ribalta. Junta-se a esta feira a indecisão das hierarquias dos poderes na área da justiça e os sucessivos relatórios que colocam Portugal em condições muito difíceis… É verdade que em nada se pode avançar sem os devidos diagnósticos, mas o contínuo mergulho no pessimismo persistente também pode afogar as centelhas de esperança vitais para a sobrevivência. É mesmo preciso dar o «salto» (trans)formador.
2. A certa altura na rádio alguém falava da nova classe política (é sempre mais fácil descarregar para cima dos outros…?!) como apresentava referências pouco elogiosas às novas gerações… que não comeram «côdeas de broa» e que não passaram as «passas do Algarve»! Retirando os excessos verbais provindos da força da emoção, valerá a pena pensar em como vamos conseguindo (ou não) passar os grandes valores, como vai caminhando (ou não) o diálogo de gerações, como conseguimos (ou não) aliar a inovação sedutora à tradição da alma das gentes. Sem transições saudáveis podem-se gerar grandes ilusões e mesmo impulsos que representem o queimar de etapas rumo ao vazio... Talvez do pão de broa o salto tenha sido dado mais para o «hambúrguer» que para o pão de trigo.
3. Diante dos cenários de desigualdade, de desemprego, de crise… o tempo perdido na contemplação do pessimismo e da derrota é factor que não traz nada de novo porquanto desmotiva e impede o futuro de ser diferente. Há que derrubar os muros da desesperança, despertar energias motivadoras, criar o imperativo ético límpido finalizador das corrupções. Que cidadania somos?

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

O FIO DO TEMPO
O inverno demográfico
1. É recente a confirmação de que a «população portuguesa é a que envelhece mais depressa na União Europeia». A notícia alarma e subscreve as teorias de que a Europa caminha para um grande inverno demográfico em que, afinal – em termos comparativos –, já se encontra. O relatório conclusivo desta matéria foi apresentado nesta semana no Parlamento Europeu, em Bruxelas, pelo Instituto de Política Familiar. São muitos os dados a pensar e repensar, um deles é o facto de Portugal ser apresentado como o país que oferece menos assistência às famílias. É certo que todas as crises podem justificar o não apoio como seria o ideal (poder-se-á dizer); também pode ser questionável que o estado como referencia social geral não deverá determinar naquilo que é de foro privado como a família (pode-se acrescentar); mas…
2. Por «assistência às famílias» entender-se-á uma noção de família e uma visão daquilo que poderão ser as conjugações de valores a apostas – no respeito pela plena liberdade pessoal e familiar – que vão no sentido de estímulo até em termos da imagem social da família… O relatório apresentado pelo referido Instituto descreve que a Europa está «imersa num nunca visto Inverno Demográfico» ao recordar tanto o défice anual de nascimentos como o aumento dos abortos e a «explosão» dos divórcios. No caso das tendências se confirmarem, em 2050 a população europeia perderá 27,3 milhões de pessoas, sendo a Alemanha a mais afectada; uma em cada três crianças nasce fora do casamento, em especial na França e Reino Unido; há mais de um milhão de divórcios, o que «equivale a um colapso de casamento a cada 30 segundos.»
3. Passemos aos finalmentes: se a sociologia nos apresenta as representações, as psicologias os estudos tipológicos, as políticas a linha de rumo social geral… afinal, quem efectivamente propõe horizontes valorativos de apostas que respondam ao observado «inverno demográfico»? Quem alimenta a digna e necessária promoção valorativa da família?

terça-feira, 10 de novembro de 2009

O FIO DO TEMPO
Responsabilidade partilhada
1. Os tempos que correm, dos cenários sociopolíticos nacionais às conjunturas internacionais, despertam-nos para uma consciência de que na equipa reside o futuro. Quanto mais soubermos harmonizar as diversidades melhor será o resultado final. Se a década de quarenta, com o final da II guerra já havia decretado o fim dos nacionalismos e por isso dos individualismos, a queda do Muro de Berlim recentemente assinalada (09-11-1989) confirmou esse fim do período em que parecia que as individualidades tinham razão de existirem por si mesmas. De Europa aberta na nova conjuntura ao mundo da globalização, somos descentralizados da concepção fechada que antes parecia tudo…
2. Se os homens haviam estabelecido – e vivido essa ilusão – de que as fronteiras de estado seriam a meta definitiva, a própria transnacionalização dos problemas mundiais (da energia, do ambiente, da crise financeira…) que estão na ordem do dia mostram cabalmente que o fechamento corresponde ao paradigma passado. Abrem-se novas dimensões à percepção dos valores, aos diálogos entre as culturas e as religiões, ao saber partilhar a opinião do outro, lendo as suas diferenças numa linha de complementaridade e não de contraposição onde o ter e o poder não podem ser mais as ideias força. Mas um problema de fundo persiste: não se pode nem obrigar todos a convergir para a mesma noção de responsabilidade (nada se consegue impor desse modo), como também uma nova libertinagem desordenada não pode tomar conta da praça social.
3. Avizinham-se anos e décadas, na alta rodagem e mobilidade das gentes e das modas de pensar (ou do não pensar!), em que virá ao de cima a qualidade de sabedoria de cada um e de todos. As tendências para a liberdade sempre mais aberta poderá conduzir ao “caos”, não é novidade esta afirmação. Talvez a contextualização das liberdades numa óptica de responsabilidades partilhadas seja a via essencial. Como a Escola e a Família a conseguem ensinar?
O FIO DO TEMPO
Da abertura de novos muros
1. Foi dos dias mais esperados do século XX, mas foi dos dias que o mundo das ideias humanas fez com que tivesse razão de existir. Sejamos claros, o ideal seria não ter sido necessário o 9 de Novembro de há 20 anos atrás. Quando não há evolução contínua é porque se podem criar as condições de desumanidade que abrem portas para a revolução. A absolutização de ideias humanas que ficara consagrada nas ideologias totalitárias do séc. XX conduziu a que cada bloco de betão desse muro significasse o desinvestimento na maturidade humana. Com olhos de ver, parece que esta memória já é muito mais longínqua do que na realidade é. A verdade é que há duas décadas atrás o mundo acordou para uma nova abertura na era da globalização, pois que a cortina de ferro fora derrubada.
2. Nestes dias revisitou-se a Alemanha Oriental e a Alemanha Ocidental. Mesmo que seja para não esquecer, não repetindo… Derrubada a separação dos 66,5 km de gradeamento metálico, as 302 torres de observação, as 255 pistas de corrida para cães de guarda…viu-se por dentro das fronteiras do muro a “verdade” da ideologia. A honestidade intelectual terá de reconhecer que a ideia do absolutismo que foi derrubara com o muro não tem pernas para andar. Mas, como em todas as guerras, sendo certo que sempre triunfa a liberdade humana – ainda que conquistada com muito sangue –, a verdade profunda é que “ninguém” vence e todos saem com feridas e em todos cresce a responsabilidade. Ninguém duvida que as pesadas sanções de 1918 impostas à Alemanha geraram terreno fértil ao nacionalismo que alimentou a II grande guerra.
3. A história do século XX regista que veio da Polónia mutilada o homem da paz e reunificação que decreta o fim da guerra fria: João Paulo II. A importante memória do Muro de Berlim derrubado apura a grandiosa responsabilidade de repensar os muros a derrubar. Em todos os quadrantes da actividade humana, do universal ao local, do longínquo ao perto. No fundo do ser, nas ideias, onde o “betão” nasce…

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

O FIO DO TEMPO
Marchar para erguer a Paz
1. A própria expressão «Marcha Mundial pela Paz e Não-Violência» dá a volta às palavras no justo sentido. Ao passarmos o filme da história, a designação de «Marcha» é bem mais atribuída ao marchar para a guerra do que ao anúncio da Paz. É mesmo importante inverter esse caminho e avançar de forma pensada e amadurecida pela paz, o único caminho com futuro para todos. De Outubro 2009 a Janeiro 2010, está decretada a reflexão mundial pela paz. Talvez seja efectivamente na era global a primeira marcha unida pela paz. Sinal dos tempos, sinal de esperança, mas nobre missão e compromisso em que ninguém pode ficar de fora, especialmente os corações que persistem nas durezas da divisão e dos muros.
2. Á medida que cresce a consciência universal e a convergência impressionante e “ao segundo” no encontro de culturas, etnias, religiões e filosofias de vida, aumenta a responsabilidade de orientar todas as visões de sociedade numa linha de sentido de «bem comum», este um pilar fundante do mundo melhor que se procura, repleto da generosidade que vence todo o mal. Também à medida que as intolerâncias de várias origens vão continuando a dar os seus ecos maléficos a proclamação da «não-violência» é o mínimo olímpico essencial rumo à paz. Mas não chega a paz podre… É por isso que em imensas localidades de norte a sul e do oriente ao ocidente cresce a adesão ao projecto da Marcha Mundial da unidade na riqueza da diversidade. http://www.theworldmarch.org/index.php?lang=por
3. Se a paz é mesmo o único caminho para haver futuro, então no mundo actual nenhuma área educativa, da formal à informal, poderá ficar de fora… Mas a verdade é que a violência percorre o mundo da comunicação e as consideradas melhores películas dos cinemas – factor cultural – trazem consigo armas a ferro e fogo. Do global ao local, em espírito glocal. Também em Aveiro a marcha chegou e quer mover as gentes na reflexão andante para ser VIDA na prática.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

O FIO DO TEMPO
A insustentável tranquilidade
1. Nos nossos dias, só o que tem futuro é que merece a caracterização de sustentável. Esta é uma ideia simples e na actualidade claramente assumida em múltiplos quadrantes da vida colectiva. Não ter sustentabilidade é não conseguir garantir um amanhã viável e promissor em ordem ao progresso. Neste sentido, a «tranquilidade» pode prejudicar se o rumo que se tem não garante a continuidade necessária. Aliar o humanismo e a serenidade com a garantia sempre urgente de futuro será, na verdade, a chave de solução mais eficiente. Lançando o olhar sobre tantas e tantas instâncias e colectividades, do mundo social ao associativo ou mesmo cultural, deparamo-nos com determinadas opções, ou ausência delas, que podem condicionar a verdade do melhor desenvolvimento para todos.
2. A coragem de mudar, no pressuposto da preocupação de implementar melhorias nos processos e nas finalidades, na procura da verdade e da justiça, é sempre caminho de profetas. Em tantas realidades são necessários impulsos positivos, estimulantes e efectivamente renovadores, não fundamentalmente na cosmética da imagem mas na essência das coisas. Também não mudar por mudar, como quem procura em tudo ler caminhos de reacção ao passado, diminuindo, por isso, a séria convicção. Quantas vezes se sabe que em imensas colectividades a abundância da tranquilidade pode significar aquela “paz podre” que poderá ter o nome de indiferença. No mundo actual uma renovada consciência existe de que cada um pode fazer a diferença, de que cada um tem um papel imprescindível na construção do bem comum. Mas, quem governa o barco, quem lidera o grupo, terá de ter essa capacidade de síntese estimulante.
3. Esta reflexão vem a talho de foice de um dia destes, ao ouvir na rádio os comentários a mais um empate do Sporting, da «tranquilidade» de Paulo Bento e do presidente leonino. De facto, também o excesso de tranquilidade «forever» pode perturbar os cordelinhos da sustentabilidade…

terça-feira, 3 de novembro de 2009

O FIO DO TEMPO
As curvas da rua direita
1. Há ruas direitas em muitas terras e várias cidades. Umas melhor conservadas que outras, também mediante aqueles que as percorrem. Embora o nome seja «rua direita», a verdade é que as curvas acompanham esse caminho, o que exige atenção redobrada, também tendo em conta de onde se vem e para onde se vai. Se fôssemos a escrever a história de cada Rua Direita e recuássemos meio século que fosse, ficaríamos surpreendidos em como essa rua foi um autêntico eixo estruturante, um caminho que ora unia localidades ora estabelecia ligação directa e eficaz dentro da própria localidade. Mas, como é claro, com o desenvolvimento, tudo foi crescendo e nem sempre se conseguiu preservar o “direito” dessas ruas, o que obriga a conduções bem mais atentas.
2. Como em tudo quanto é conduzir toda a atenção é pouca. Quanto mais para a condução da vida por caminhos repletos de curvas. Falemos da Rua Direita que une a Estação da Luz a Aveiro. Não só em noite das bruxas, como no passado fim-de-semana, em que acidentes mortais pelas altas horas da madrugada deixam todos em estado de choque. Não se pense que existe algo contra a liberdade de entretenimento; pelo contrário, tudo quanto é diversão saudável é bem-vinda! Mas a pergunta sobre a saudabilidade das altas noitadas de discoteca, sobre as horas que abrem ou fecham, sobre os seus volumes de som, de álcool, de fumos, de… Tudo enrolado à mistura não há biologia humana que resista, já dizemos, à centésima estação de tanta luz que encandeia depois quem quer uma Rua Direita que o leve a casa.
3. É urgente mudar os roteiros: em vez de se pensar só nas consequências, pensar antes nas causas de tudo ou até nas possíveis faltas de causa que levem à cegueira na alta noite de condução. O problema é preocupante, não só pelos que ao longo dessa Rua Direita volta e meia são assustados com os estrondos da noite mas principalmente pelo acontecimento que vitimiza uns e entristece outros. É possível mudar este cenário?!

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

O FIO DO TEMPO
Uma pausa, até ao infinito
1. Nestes próximos dias os sinais e as pausas convidarão a parar, na liberdade de quem dá esse sentido à vida. Os primeiros dias de Novembro (Dia de Todos os Santos) revelam esse apelo a uma comunhão que ultrapasse meramente o mundo do visível. Um apelo na pressuposta e fundamental liberdade a sentir-se a si mesmo muito acima da condição biológica e física. Se formos a atravessar a história da humanidade e a história que se escreve nos nossos dias, o essencial encontra-se na relação humana e numa relação que não quer ter barreiras na ordem do tempo e do espaço. É precisamente esse acontecimento na perspectiva do supra-histórico que a tradição assinala como algo sempre novo.
2. Superando as concepções do materialismo histórico ou da mera satisfação na óptica de “acreditar” ou mesmo que se recuse esta palavra, do “viver acreditando” nas coisas ou nas concepções…acima de tudo o que já se atinge e na procura da verdade absoluta, ergue-se uma projecção de toda a esperança, de todos os valores, de todas as virtudes. Não como mero facto sócio-psicológico e mesmo este, se existe como necessidade de libertação existencial, revela por si no profundo do espírito humano a necessidade de um absoluto que seja um farol de referência fixo, pois que tudo o resto mostra-se repleto de movimentações e mesmo inseguras. Em que(m) alavancar toda a esperança? Eis a pergunta fundante que gera alicerces no rumo do infinito.
3. A manifestação e os gestos destes dias não são outra expressão que o desejo de «continuar». Continuar com os outros, continuar em si próprio, continuar na consciência aprofundada de que a Humanidade, não existindo por si mesma, tem uma meta definitiva, um encontro total após todos os milhentos encontros parcelares históricos. As flores, velas e todos os gestos (diários) serão sempre o sinal claro de que a aventura humana precisa de cor e de luminosidade e que a busca da identificação com o «Homem Novo» é cada dia missão inacabada quando inadiável!
O FIO DO TEMPO
As pessoas e os instrumentos
1. O utilitarismo no mundo actual continua em crescendo. A utilidade de tudo com todos os instrumentos às costas ou è frente dos dedos faz caminho sem precedentes. Mas o que não se poderá confundir é o instrumento com o dono. Desde o aparecimento do rádio e televisão, até ao progresso impressionante das novas tecnologias, por vezes gera-se confusão ao ponto de responsabilizar o instrumento e desculpabilizar o utilizador. Quando se diz que o telemóvel prejudica, que a internet é insegura, que o mundo das tecnologias gera ansiedades…, em tantas destas situações acaba por pagar o justo pelo pecador. Sejamos claros, os utensílios, os objectos, as coisas não têm qualquer culpa da má aplicação dos humanos utilizadores.
2. Nunca se poderá desculpabilizar os seres humanos quando fazem mau uso de determinados instrumentos que hoje fazem parte do dia-a-dia. A moderação razoável ou o excesso que prejudica, é da competência de quem absolutiza determinados objectos que não merecem essa centralização. Faz falta uma agenda que conduza o espírito humano actual a fim de saber discernir no lugar de todas as coisas o seu próprio lugar. Um humanismo que saiba situar aprofundadamente a dignidade, a sensibilidade, a alegria, o sentido de viver…como dados fundamentais para o caminho. Arrepia ver crianças e adolescentes de tal maneira cheios de instrumentos com imensas designações modernas que dá pouca margem para o diálogo, a profundidade de pensar e o horizonte de viver com os outros.
3. O instrumento é o meio, o ser humano é o fim último e o essencial. Descentrar esta realidade, tornando o meio no fim acaba por secundarizar as relações humanas e colocar no meio de tudo os utensílios que se usam. A pobreza de humanidade tem em muito esta raiz em que a relação pessoal não é alimentada e sai muito a perder. É também neste terreno que as filosofias e as culturas humanistas são urgentes.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

O FIO DO TEMPO
Cooperação na acção
1. Foi dada posse ao XVIII Governo Constitucional. Palavras de cooperação, apelo reformista e num horizonte temporal de legislatura. A Sala dos Embaixadores do Palácio da Ajuda encheu-se para o acontecimento simbólico da abertura desta «parte 2», agora liderada por uma minoria que, ao serviço da nação, saberá catalisar e gerar oportunidades, mobilização e desenvolvimento para todos(?). Falam-se em referenciais de estabilidade, em não se ser elemento perturbador da governabilidade. Sublinha-se a determinação em avançar, progredir, melhorar a vida dos portugueses e das multi-gentes que habitam Portugal. As reacções das oposições espelham votos de confiança e, na palavra seguinte, avançam para a desconfiança se alguma coisa vai mudar/melhorar.
2. Tudo como hábito, tudo na essência como dantes. Nada de novo em matérias de tomadas de posse em que, não havendo nenhum descuido, tudo corre bem. Como hábito, o povo votou e agora o povo assiste às tomadas de posse… Mas, haverá algo de fundo a (trans)formar: não chega a participação democrática reduzir-se aos actos eleitorais, e a vigilância sobre os que o povo elegeu será virtude democrática. Uma purificação do autêntico sentido de «a política» dará ao privilégio de pertencer ao parlamento a grande e delicadíssima responsabilidade de SERVIR a comunidade que se representa. Num olhar translúcido, que efectiva representação existe nos trabalhadores parlamentares?
3. Ainda que a resposta oriente à desilusão mas parecendo que os protocolos habituais das tomadas de posse decorram dando imagem de que tudo está bem, a verdade é que a frescura de uma cidadania activa será o eixo de todas as mudanças a efectuar não “para” mas “com” todos. Veremos como às várias agendas conseguirá presidir o bom senso, o sentido de bem comum, os grandes valores que hoje terão de ser sintetizados na responsabilidade como caminho de autêntica felicidade. Ouvindo as aspirações lícitas, temos dúvidas…

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

O FIO DO TEMPO
O difícil mundo de Bagdad
1. Já há dois anos que as proporções dos atentados não chegavam ao nível deste 25 de Outubro 2009. Os relatórios de Bagdad apontaram de imediato para mais de 130 pessoas mortas e cerca de 600 que ficaram feridas na sequência da explosão de dois carros armadilhados no centro da capital iraquiana. Quatro hospitais da capital acolheram as vítimas do estrondo dos dois veículos que em locais distintos quase em simultâneo vitimizaram tanta gente. A estratégica foi cruel e premeditada: um carro explodiu junto ao edifício do governo, outro no bairro Al Salehiya, junto ao ministério da justiça. Governo e Justiça, dois pilares da estruturação social que são atingidos em tempos eleitorais.
2. Ainda um outro ponto de referência: os atentados registaram-se perto da designada «Zona Verde», esta que abriga as embaixadas dos Estados Unidos e do Reino Unido e ainda protege alguns edifícios governamentais do Iraque. Esta zona de forte segurança sentiu os abalos de uma insegurança iraquiana que persiste em atingir melhores dias. Nas televisões e das ruas sentia-se o desespero pela situação em que se torna impossível o viver, o dormir, o andar pelas ruas com normalidade… Estranho mundo dessa grande cidade da antiguidade persa, onde tantas correntes de pensamento ao longo da história foram apontando bons indicadores para a Humanidade em geral. Será uma fatalidade o que acontece por aqueles lados?
3. Os caminhos da tolerância entre todas as etnias e entre todas oposições será talvez o maior desafio do século XXI. Ao vermos nessas ruas de Bagdad tantos gritos para tantos lados onde todos pensam que são os únicos que têm razão…esta cenário faz sentir quanto difícil é a convivência humana em circunstâncias onde se absolutiza aquilo que é humano. Nenhuma terra deste mundo é santa, as pessoas sim, poderão, quando em diálogo fraterno com os outros, ser santas. Quanto mais difícil mais urgente é esta nova consciência do essencial.

domingo, 25 de outubro de 2009

O FIO DO TEMPO
A encruzilhada ambiental
1. Já há bom tempo que as questões ambientais deixaram de ser uma moda onde existisse tempo para o extremar de posições. Bastando minimamente percorrer os caminhos da informação mundial, apercebemo-nos de que o assunto da protecção ambiental, do desenvolvimento sustentável, da preocupação pela biodiversidade que preserve a natureza para haver futuro saudável…são assuntos que, da educação social aos patamares de decisão política, vão estando na ordem do dia. Mas falta um «clic» essencial: a consciência de que não há alternativas e por isso o passar das boas intenções a decisões profundas de cariz político para serem possíveis realizações conforme os desafios que todos temos pela frente. Mas não um gritar ambiental simplista e extremado, como se todo fosse fácil, “fechando-se” a área empresarial obtendo-se a solução.
2. Diante da obrigação ética para a sobrevivência de todos e para haver futuro, o aliar do realismo às responsabilidades poderá ser o “meio” por onde a fundamental mudança de paradigma será possível. De forma progressiva mas não adiada; de modo concertado e não isolado. Na consciência de que ao falarmos sobre assuntos de ambiente estamos a expor muito acima do meramente ambiental, estaremos a decidir sobre: que tipo de relação do ser humano com a natureza envolvente? Exploratória ou respeitadora? Os meses que aí vêm serão decisivos (?). Antes da grande Cimeira de Copenhaga (7 a 18 de Dez.: http://copenhaga.blogs.sapo.pt/), a Fundação Calouste Gulbenkian leva a efeito a Conferência O Ambiente na Encruzilhada – por um futuro sustentável (www.fcg.pt).
3. Uma vasta gama de especialistas, não unifocados mas na linha da interdisciplinaridade estarão presentes (27 e 28 Outubro). David King, na conferência de abertura dará o mote: «O século XXI será dominado pelos desafios colocados por uma população que rondará, em meados do século, os nove milhões de pessoas, todas procurando um elevado padrão de vida.» Que eco-sustentabilidade?
O FIO DO TEMPO
O erro de Saramago
1. Tomos têm erros, todos temos erros. Claro que há erros e erros. O próprio cientista António Damásio ao falar de «O Erro de Descartes» está a falar não de erros de ortografia mas de abordagens erróneas, descontextualizadas, desfocagens de princípio nas premissas dos pontos de partida que podem conduzir a determinadas conclusões menos verdadeiras. Também, ainda, serão de considerar os erros involuntários e aqueles que são intencionais. Ainda bem que nas sociedades ocidentais é possível conviver publicamente com as diferenças de opinião (e o direito ao erro!). Mas à liberdade de opinião haverá de presidir a delicadeza da prudência e da ética de quem sabe que não basta dizer-se que se é frontal atirando para a frente esta ou aquela ideia, esta ou aquela inverdade provinda de desconhecimento da densidade do que está em causa…
2. A polémica está instalada, mas como hábito daqui a umas semanas tudo volta ao normal. Se ao menos a polémica servisse para uma procurada clarificação, um debate (ao jeito daquele de há breves anos entre D. José Policarpo e Eduardo Prado Coelho) que o vento não leve, um aprofundar da procura da verdade em assuntos tão sérios. Na matéria em causa (religião) e na sociedade mundial actual, para vender mais ainda será facílimo, bastará trazer de modo simplista religiões como o Islamismo. Vale a pena responder alargando o nível da reflexão com pensadores como Eduardo Lourenço, um (quem sabe, merecedor!) futuro prémio Nobel da Literatura. Na sua seriedade sublinha o cuidado a ter em juízos precipitados nestas questões pois que as religiões são a resposta mais profunda da busca de sentido para a vida. O entrar no mundo do simbólico como reflexo do existencial profundo não é, efectivamente, tarefa prática…
3. Como na história da humanidade, no caminho da perfeição, infelizmente as guerras pertencem à viagem humana, estando presentes em alguns textos do AT… Abrindo os olhos do espírito humano, Deus veio anunciar, dar-se pela paz (Shalom)!

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

O FIO DO TEMPO
Da polémica à formação
1. Cada vez mais vale a pena pensar e perguntar sobre o que, afinal, move as multidões, as pessoas, a sociedade em que vivemos. Uma perturbadora preferência no mundo da comunicação pelo que escandaliza, pelo que arrepia caminho tido como normal reflecte a nova condição humana actual. Há dias alguém dizia que para alimentar uma notícia e vender papel bastará sobre um determinado assunto fracturante chamar duas pessoas a expor as suas ideias, uma de cada lado e alimentar a polémica. Poder-se-á dizer que nunca como hoje se combateu todo o género de extremismos, mas nunca como agora estes foram tão úteis e usados para alimentar as “novelas” que seduzem uma sociedade sedenta de casos mediáticos onde o esquisito sempre triunfa.
2. Sempre nos perturbou esta desfocagem em que o essencial muitas vezes se mostra passado para a periferia. Quanto bem é feito, quantas apostas decisivas na formação, quanto esforço de tanta gente em semear os grandes valores e as maiores causas, dedicação imensa esta que acaba por não ter nenhum reflexo público. Esta regra de mediatizar o que é escândalo, mesmo sem o saber ou querer, é precisamente o motor gerador da generalização do “mal” que se de(a)nuncia. Se em tudo a vida é “como as cerejas”, umas puxam as outras, não se duvide da contra-escola que acaba por representar o contínuo explanar do rol de notícias trágicas, de situações de violência, de cinemas carregados de armas… desenhos animados já não inocentes como outrora mas muitas vezes a ensinarem as maiores manhas e egoísmos a quem está na fase de aprender a viver para ser…
3. Sociedade melhor formada será sociedade mais informada. O baixar do nível ético alimenta a própria incultura que se denuncia. A relação de causa – efeito, se assumida a sério, obrigará todos os agentes educativos, dos formais aos informais, a pensar e repensar em toda a contradição que persiste quando num lado ensinam uma coisa e da televisão aprende-se outra. Vale a pena pensar nisto!?

terça-feira, 20 de outubro de 2009

O FIO DO TEMPO
Informática, o novo poder
1. Não será novidade para quem diariamente, ou pelo menos para quem com alguma periodicidade precisa do uso das novas tecnologias, o facto de se sentir totalmente dependente diante de uma situação de problema informático em que não se sabe como agir. Para quem, porventura, mesmo após todas as buscas de mão especializada na área, perdeu algum trabalho importante de anos, meses ou semanas, a sensação de perda é inqualificável. Na procura de segurança a todo o custo, vão crescendo os discos externos, um, dois, três; diante de softweare bloqueado que impede o acesso a conteúdos para se poder trabalhar, sente-se a limitação do próprio tempo e das energias e tempo necessário para se recuperar as etapas perdidas, tão contado que tudo parece estar…
2. Se para alguns o uso das informáticas pode ser um dado acessório, para outros acaba por ser o trabalho diário. A internet veio acrescentar mais velocidade, o que resulta ainda em mais responsabilidade. Se existirão alturas em que pode ficar para os dias seguintes outras existem em que tal não pode acontecer; uma montanha de “lixo” informático vai invadindo o espaço pessoal e a pergunta sobre as seguranças e as privacidades, mesmo nos códigos de acesso, vai fazendo cada vez mais correr mais tinta. É de notícia recente não só aquele discurso sobre a segurança das tecnologias da presidência da república, como as inseguranças informáticas nos sistemas de justiça ou ainda nos múltiplos e complexos processos bancários. A “rede” onde o mundo acontece está em todo o lado e quando não se consegue aceder com fluidez e segurança a ela parece uma nova fuga ao mundo.
3. Se se falar na essência do poder, a partir das coisas diárias mais simples, então as tecnologias informáticas são um novo e fortíssimo poder, que quando não em ordem geram dependências de tal maneira que acabam por relativizar tudo o resto. Não é virtual esta ordem de poder; embora poderá transformar o essencial em acessório. Alerta!
O FIO DO TEMPO
Ao proclamado Diálogo!?
1. A inevitabilidade de se ter que se dialogar – quase que num à força político! – acaba por reduzir o diálogo a uma mera formalidade esvaziada de si mesmo. Cada um é como é, e não é a conjuntura numérica de actos eleitorais que altera a profundidade das atitudes humanas fundamentais. Talvez este usar as palavras mediante o jeito que elas dão às circunstâncias seja um reflexo do próprio enfraquecimento das lideranças. Esta lei que institucionaliza o vender gato por lebre chamando palavras afáveis em determinados momentos de aproximação estratégica sempre dá que pensar… Quando se viveu pouco o diálogo no passado recente (em que se podia tê-lo feito em liberdade) e agora se insiste em dialogar à força, é opção discursiva que não augura nada de novo, antes confirma o tempo precedente.
2. Um dos grandes filósofos do diálogo, Martin Buber (1878-1965) deve estar assustado! Compreenderá o esvaziar das palavras mas não o apagão da “ideia” da intersubjectividade dialogal. Buber, judeu de origem austríaca, filósofo, escritor e pedagogo de educação poliglota, via a experiência humana como a realização continua do diálogo. Viver é relacionar-se, diria Buber. E a verdade é que em momentos fundamentais da humanidade o “diálogo” foi estando como princípio fundante de novos caminhos que se procuram desenvolver. Viver o diálogo como e no “princípio” e não no fim, como se fosse um último recurso de sobrevivência, talvez seja esta uma recomendação bem-vinda, saudável e auspiciosa na procura de um envolvimento sempre mais abrangente. Até porque o isolacionismo, no “dia seguinte” faz morrer o seu próprio autor.
3. Não se duvide que diante de um mundo em profunda convulsão transformadora a atitude de diálogo só poderá ser crescente. Ela marca a diferença entre o apostar no futuro ou o fechamento do passado. O diálogo autêntico não reside em apagar-se a si mesmo ou às suas ideias, mas em partilhá-las na boa liberdade que edifique e (re)une…

domingo, 18 de outubro de 2009

O FIO DO TEMPO
Não simplificar o que é complexo
1. Decorreu a 15 de Outubro na reitoria da Universidade de Lisboa o Colóquio Crise de Civilizações – Ciclo de Reflexão sobre grandes temas da actualidade. Especialistas
nacionais de vários âmbitos abordaram a questão de fundo das civilizações ao longo dos tempos e a pertinência de nos dias de hoje serem relançadas um conjunto de questões que procurem clarificar ideias em ordem a iluminar as práticas. Muitos autores reconhecidos ao longo dos séculos procuraram compreender toda a rede de interacções filosóficas, sociais e culturais de modo a se poder atribuir a noção de civilização. Não sendo a questão totalmente pacífica, poder-se-á dizer que da antiguidade até à actualidade, muitas civilizações portadoras de um conjunto identificado de valores, princípios e práticas foram existindo.
2. Lançar hoje o olhar sobre as civilizações, para algumas visões menos procuradoras da verdade da humanidade, até poderá parecer arcaico, não fazendo sentido. O certo é que cada ano que passa o assunto vai em crescendo e também as conjunturas de crise social reforçam a pertinência de se pensar sobre as civilizações. São hoje várias as obras que ora anunciam o fim da história e a crise da civilização humana ora procuram mergulhar nas raízes do Ocidente, querendo atribuir à civilização ocidental desígnios de superioridade comparativamente a outras quer de hoje quer de outros tempos. Essas obras que recentrem o pessimismo ou afirmem um pretensiosismo não conseguem manter o equilíbrio em terrenos tão delicados. Considere-se que nem o ocidente actual é o melhor nem o pior dos mundos e a atribuição contínua de “crise” também manifestará esse travão do comodismo delicioso que estagna.
3. Não será novidade, mas um alerta vindo de quem estuda estas matérias: a responsabilidade das comunicações sociais é vital. É grave, no que às culturas, civilizações e religiões se refere, observar-se tantas vezes tratamentos tão simplistas sobre matérias essencialmente complexas. Sinal (menor) de civilização?!
O FIO DO TEMPO
A inquietude de Saramago(s)
1. Logo que no ano 2005 saiu a obra As Intermitências da Morte do escritor José Saramago, veio a claro a inquietude de não deixar indiferente a questão do sentido da vida e do destino humano para além do visível. A frase inicial dessa obra é lapidar: «No dia seguinte ninguém morreu…». Abre, assim, uma ampla reflexão sobre a vida e a morte, o vazio ou o sentido da existência. Haverá que ter olhos para ler e compreender Saramago, particularmente nestes últimos anos. Todos os autores têm tantas fases literárias como etapas humanas de sua reflexão e mesmo filosofia de vida. Ninguém duvida que na fase da inteira autonomia humana, na época de todas as forças físicas pessoais e da lucidez mais apurada um certo “super-homem” se pode apoderar de si mesmo gerando ideias de dar valor absoluto ao que é só humano…
2. Foi tornado público nestes dias o último passo do escritor. Por trás de tantas críticas que faz ao fenómeno da religião (há que saber ter olhos para as entender, contextualizar nos vazios da própria vida existencial de quem escreve e não se deixar conduzir ou iludir…), a verdade é que Saramago continua, mesmo com linguagem de “combatente”, a não deixar o infinito indiferente. A obra Caim (2009), na qual Deus é uma das personagens principais, continua na generalidade a culpar Deus pelos males do mundo… Não sabendo separar as águas pela superficialidade onto-teológica, continua a confundir quando deduz o todo pela parte… Culpar Deus diante do mau uso das liberdades humanas é conclusão precipitada que nos tempos actuais resulta como sedutora mas desconstrutiva.
3. Desde os tempos mais antigos da Humanidade e em todas as religiões que a “conversa” com Deus tem muitos caminhos… Duvidar, dialogar, debater (como Job, AT) é assumir a presença do Outro. Já a indiferença é o pior dos males. Ainda que a linguagem o atrapalhe na produção daquela literatura tipo Dan Brown ou que a ideologia da história de vida aprisione o “sentir”, a verdade é que a inquietude persiste. Infinita paciência de Deus!

terça-feira, 13 de outubro de 2009

O FIO DO TEMPO
Colonialismo espiritual
1. Decorre em Roma o II Sínodo para África. Este encontro com o Papa procura repensar a comunidade africana na sua renovação contínua e na relação com a comunidade universal. De 4 a 25 de Outubro a organização local africana encontra-se com a organização universal em reflexão sobre os caminhos andados e os percursos a trilhar. Na mensagem de abertura Bento XVI confirma o reconhecimento da grandeza e originalidade do continente africano, exaltando o seu «imenso pulmão espiritual para toda a humanidade». Simultaneamente, o Papa alerta para os perigos das “patologias” do materialismo e do fundamentalismo religioso. Num continente pródigo de beleza natural mas ao longo dos séculos muito sofrido na exploração pelo ocidente apressado e interesseiro (é um facto histórico), é hora de nova consciência autonómica sobre o continente africano.
2. A referência ao «colonialismo espiritual» apresentar-se-á como um dado preocupante, numa transferência do plano político ao espiritual; diz Bento XVI que «neste sentido, o colonialismo, terminado no plano político, nunca se concluiu completamente.» Não é fácil, com toda a carga história secular, abordar o assunto do colonialismo espiritual. À liberdade de propor deve presidir a liberdade de aceitar e a face humana de instituições como a Igreja mostra factualmente também elos menos positivos; quantos caminhos desandados nas questões delicadas da imposição da fé?! Continua a ser de grandeza eminente aquele persistente e lúcido «pedido de perdão» do peregrino da paz, o Papa João Paulo II. A “purificação da memória” em terrenos tão delicados como o da inculturação da fé transborda para todos os quadrantes numa responsabilidade de nunca impor mas de propor.
3. Na verdade de que nunca se pode ajuizar com os olhos de hoje os séculos passados (seriam juízos anacrónicos, fora do tempo), o certo é que só na chave de leitura de um pluralismo ecuménico é que se poderá ver a luz ao fundo do túnel. Não é missão fácil; mas possível no enobrecer do essencial.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

O FIO DO TEMPO
Arregaçar as mangas!
1. Se fosse possível quantificar a energia investida nas campanhas e esta ser transferida para o «day after (dia seguinte)» aos actos eleitorais não havia país que não avançasse! Mesmo integrando as diferentes formas de olhar o futuro…, a verdade é que no “meio” dos programas a realizar muito terreno resulta como semelhante em ordem ao bem comum e a uma sociedade mais justa. É a hora de arrumar a tenda das campanhas, é momento de tirar os cartazes e devolver às rotundas das nossas avenidas a sua autêntica finalidade circulante. Cada acto eleitoral mobiliza ao seu jeito. Das europeias às nacionais (legislativas) e destas às locais (autárquicas), chega a hora de arregaçar as mangas em ordem a cada dia fazer o melhor possível.
2. Como já não havia memória, o país viveu três actos eleitorais seguidos. A esperada mobilização, e sendo verdade que a sequenciação das eleições daria razões para crescente interesse e mais participação, deu lugar a uma certa saturação e indiferença. Das campanhas e do estilo argumentativo de “fazer” política muitas são as lições que sempre se podem tirar, bastará haver grandeza e interesse para tal. Haverá? Nunca no dia seguinte se pode aceitar comodamente que tudo continue como dantes. Diante de tantos desafios da sociedade actual, é sentido esse «rasgo» constante que impele ao sentido dinâmico e evita o fecho do descompromisso? A cidadania activa e participativa não se pode acomodar no final do acto eleitoral, deve, antes, procurar implementar dinamismos novos, estimulantes e comunitários.
3. São heróis e grandes portugueses os que servem no designado poder local, na condição de se viver para servir. Na limitação dos meios de que dispõem têm de fazer o milagre da multiplicação e do contínuo mobilizar de recursos tirando o melhor de cada rua, terra, paisagem, tradição com inovação. “Esmiuçou-se” cada cartaz e cada ideia nas campanhas que dá para arrepiar como ainda estamos aí… Avancemos, arregaçar as mangas!

domingo, 11 de outubro de 2009

O FIO DO TEMPO
O Nobel da expectativa
1. No dia 10 de Dezembro deste ano será o presidente Barack Obama a receber o Nobel da Paz. O facto surpreende pela prematuridade do acontecimento em relação a quem ainda está a começar. Normalmente é mais para o final da vida, com todas as provas dadas, que a atribuição Nobel é concedida. Obama tem antecipado muitas etapas, talvez porque os anos precedentes haviam revelado profundos desencantos e pessimismos. São vastíssimas as reacções ao Nobel que não deixa ninguém indiferente. Se as atribuições do comité norueguês têm sempre um cariz sociopolítico, este ano todas as expectativas foram superadas. De ondas de entusiasmo às suspeitas cépticas, de tudo um pouco pode-se confirmar nas reacções ao Nobel.
2. Poder-se-ão compreender tanto o entusiasmo como a dúvida vigilante. A verdade é que a «Esperança» de Obama surpreendeu a Humanidade e em tempo recorde conseguiu mobilizar os pensamentos num novo olhar diante de problemas antigos. Este voto de confiança e de responsabilidade sobre Obama – ele que muito tem proclamado a Nova Era de Responsabilidade – deixa em aberto o terreno concreto que nas acções precisa dessas inspirações. Como conciliar as ideias inspiradas com a prática crua e dura? Como activar a vontade a roçar a utopia com decisões políticas concretas? Na lógica normal, a atribuição do Nobel viria mais adiante, depois das acções confirmarem as intenções. É neste cenário que esta entrega no 10 de Dezembro, Dia Dos Direitos Humanos, é especial.
3. Se Obama só apresentou até agora «expectativas», então este é mesmo o Nobel das expectativas. O mundo pós-11 de Setembro 2001 precisava delas, pois que os pessimismos também de crise financeira careciam de uma luz de lucidez, nem que fosse só no plano das expectativas saudáveis. A eleição (multiétnica) de Obama abriu esse tempo novo, uma nova mundividência no plano das ideias. Obama é maior que ele próprio. Ele sabe disso. Venham as acções!

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

O FIO DO TEMPO
Povo que Participas?
1. A incontornável Amália (1920-1999) tanto cantava com a nostalgia lusitana «povo que lavas no rio…». As tábuas de Amália continuam a ecoar, quer numa maravilhosa nova geração de fado quer na candidatura do Fado Português a património da Humanidade na UNESCO. Uma ideia que dá que pensar é como o fado, a cantiga da alma das gentes, fez um caminho admirável até aos palcos internacionais, percurso esse de uma irreverência criativa, mas que, predominantemente, revela uma face saudosa que muitas vezes, mais que mobilizar activamente, poderá fazer parar nostalgicamente. Não é linear, nem o fado tem muitas regras, como se sabe… Sabe-se e reconhece-se a originalidade do fado, enaltecido por tantos nomes que terão na Amália o topo da montanha.
2. Se muitos sentimentos reflectidos no fado poderão até ser reflexo de conjunturas sociopolíticas, a verdade é que a canção portuguesa nunca se deixou aprisionar e traz sempre consigo a ânsia de novos mares a navegar. Também é verdade que pertencerá à história da identidade nacional, sem mitologias excessivas, que o fado como destino da aceitação de tudo e tristeza que paralisa reflecte-se naqueles estudos europeus ou mundiais que volta e meia nos dizem que somos mais tristes que alegres, nostálgicos do passado que empreendedores do futuro(?). Claro que o fado não tem culpa de nada, ele acontece, reflecte, manifesta, espelha… O fado poderá aliar a memória da tradição ao projecto visionário e aventureiro do amanhã? Claro que sim, as gentes do povo têm a “caneta” nas mãos em cada dia…
3. Não parece mas eis-nos diante de outro acto eleitoral de altíssima responsabilidade cívica. O fado de que tudo está mal ou tudo está bem (até porque tal nunca é verdade) não pode aprisionar e limitar a intervenção dos cidadãos. Povo que participas…! Mais que uma questão que seja a afirmação convicta de todos serem actores da construção do bem comum. Só a participação dá razões para a exigência! Dar frescura ao fado!

terça-feira, 6 de outubro de 2009

O FIO DO TEMPO
O lugar da UNESCO
1. Olhando os sinais do mundo, para além da agitação de campanha do nosso quotidiano mais próximo, valerá a pena reparar em importantes passos andados na UNESCO. Se a educação, nos países de liberdade democrática, é apresentada como o factor essencial de progresso humano e social, então as instâncias mais amplas na proposta de indicativos para a educação hão-de ter lugar de referência central. A UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), cujo lugar sede é em Paris, é uma dessas organizações primordiais que tem emanado continuamente e com pertinência documentos, recomendações e conclusões a propósito das mais variadas matérias.
2. A UNESCO foi fundada a 4 de Novembro de 1946, «com o objectivo de contribuir para a paz e segurança no mundo mediante a educação, a ciência, a cultura e as comunicações». Com propósitos tão nobres o seu lugar haveria de sair reforçado, sendo os seus preciosos documentos resgatados do público especializado para o público em geral. Por vezes é estranho observar como, quer na sociedade do conhecimento e da comunicação, quer nos designados sistemas educativos formais, ainda há tão pouco lugar para estes grandes documentos estruturantes, pensados por investigadores de diferentes formações e culturas. Como é possível que sobre determinados assuntos de plena actualidade haja tão pouco lugar para o pensamento daqueles que já passaram pelas mesmas dúvidas socioeducativas que hoje temos?
3. A UNESCO a 23 de Setembro elegeu para directora-geral a diplomata búlgara Irina Bukova. É a primeira mulher eleita para a responsabilidade de presidir à UNESCO. Do seu programa de ideias destacam-se, no espírito das raízes da organização, o respeito pela cultura da paz e o património cultural como factor de desenvolvimento. Eleição que honra a instituição em fase de renovação e que poderá despertar a comunidade para que o lugar da UNESCO seja a casa de cada um.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

O FIO DO TEMPO
Rio de Janeiro, Olimpíadas 2016
1. Já há bastante tempo que o Brasil é considerado uma potência económica emergente. Este referencial de «potência económica» pouco interessará se a sua aplicação em termos de desenvolvimento humano não se reflectir em progresso social. O Brasil pertence ao grupo designado BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China), países que, quer pela sua grandeza geográfica quer, especialmente, pelo seu potencial em determinadas áreas, afirmam-se como líderes em termos regionais e mundiais. A grandeza do Brasil (que engole a Europa!), país irmão de Portugal, reflecte bem o paradigma intercultural que é característico dos países de cultura em língua portuguesa. Sejamos claros, a CPLP (comunidade dos países de língua portuguesa) “agradece” a confirmada capacidade de liderança do Brasil!
2. A segunda década do século XXI terá no seu meio dois acontecimentos incontornáveis que trazem o país do samba para a ribalta mundial. No ano 2014 o Brasil receberá o Campeonato do Mundo de Futebol da FIFA, dois anos depois o Rio de Janeiro recebe a edição dos Jogos Olímpicos. É palavra obrigatória dizer-se que se tratam dos dois maiores acontecimentos desportivos mundiais, com o que tudo isso acarreta de milhões visitantes capacitando as grandes cidades brasileiras para acolher tamanhos eventos. As primeiras olimpíadas que «falam português» são, para a cidade maravilhosa, uma altíssima responsabilidade. Como o presidente Lula da Silva referiu, embora pareça que não falta muito tempo, cada ano e cada mês têm metas humanas e sociais de construção a atingir.
3. A obra e a alma que estes acontecimentos transportam, para além de tudo e depois de tudo, representam, para o Brasil como para a América Latina, um fortalecer da esperança social. Sabe-se da convulsão que alguns países atravessam e da necessidade de um Brasil consistente para os equilíbrios geopolíticos regionais. Estes acontecimentos, do desporto como educação social, inspiram o melhor.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

O FIO DO TEMPO
A ciência da República
1. A história do pensamento e acção humanas regista momentos de avanços e recuos. Sendo as grandes descobertas científicas e técnicas autênticas alavancas em ordem ao futuro quer de cada geração quer do longo prazo humano, todavia, será no plano das ideias sociais que tudo se afirma decisivo. O aprender a viver com a diversidade de opiniões numa visão de conjunto social que respeite todos e cada um, sempre foi e será a meta final de qualquer conceito e proposta comunitária conceptualizada numa visão política. A grandeza da distância crítica em relação ao essencial de cada época dará a capacidade de nunca se absolutizar este ou aquele regime, esta ou aquela visão. Ao traçarmos o fio condutor sobre a história da humanidade, vemos regimes atrás de regimes, e tantas vezes os que vêm libertar posteriormente aprisionam…
2. Quantos males têm provido de absolutizações de realidades históricas, quantas ditaduras começando sempre levemente e mesmo por eleição democrática (Hitler foi eleito pelo seu povo) são reflexo do fechamento empobrecedor e indignificante. Os extremismos vários, os fanatismos políticos ou religiosos, as ideologias totalitárias do século passado já nos ensinaram que o “totalitarismo” como absolutismo histórico é contra-natura em relação ao potencial da beleza da diversidade humana… É sábia aquela frase de Winston Churchill (1874-1965) que diz que «a democracia é a pior forma de governo, excepto todas as outras que têm sido tentadas de tempos em tempos.» Neste pensar está-se sempre a repensar, a aperfeiçoar, a não absolutizar o dado histórico…
3. É em plena (nova) campanha e no meio de águas agitadas que ocorre a celebração do 5 de Outubro (de 1910) que pôs fim a um tempo e fez começar outro. Distância crítica em relação à república é bem vinda no sentido de ela ser a forma de governo aceitável não por si mesma mas se realizar determinadas condições… A ciência dos diálogos da República de Platão (séc. IV a.C.) assentava na ética e justiça. E a nossa?

segunda-feira, 6 de abril de 2009

O FIO DO TEMPO
A complexidade da Justiça
1. Se a complexidade apresenta-se como um eixo de interpretação de todo quanto se move, então o “simplificar” com eficácia para actuar em conformidade será o lema a seguir. Não custa a compreender que sistemas como o de justiça, num mundo global que pula e a avança a toda a pressa, são facilmente surpreendidos e fintados com todas as mil-e-uma tecnologias que hoje têm poderes de comunicação e agilidade muito acima das instituições dos estados. A desarticulação actual entre as justiças nacionais e as sociedades efectivamente (nos valores e nos defeitos) transnacionais, apesar de instâncias que vão procurando responder aos novos desafios, essa desarticulação será hoje uma das grandes batalhas sociais a vencer.
2. Como agilizar a justiça quando ela tem de percorrer os seus trâmites legais que “comem” tanto tempo? Como chegar realmente a “horas” de justiça quando, a montante ou a jusante, o ritmo social é elevadíssimo e ao chegarem as instâncias próprias já tanta água passou por baixo da ponte que lavou todas as possíveis provas? As perguntas sobre esta ponte com a realidade, para uma sociedade eficientemente mais justa, poderiam não mais acabar, mas ficando-se com a sensação tão deficitária de um continuar a “ir a reboque” dos acontecimentos. Nas últimas semanas alguns processos polémicos e famosos têm sido arquivados por causa de provas. O povo sente a sensação de impunidade, esta que gera mais insegurança e instabilidade no pensamento de que porventura, afinal, o crime parece compensar...
3. Em matéria tão delicada o presidente do observatório da Justiça, professor Boaventura Sousa Santos, sublinha que «processos complexos exigem tratamento específico desde o início para não se perder prova.» Talvez esta seja uma luz a seguir, no tratamento diferenciado para se ser mais eficaz e não se ficar em águas dúbias ou mornas… Estes problemas são muito difíceis, mas o pior será considerar-se normal o que não o é nem pode ser.

domingo, 5 de abril de 2009

O FIO DO TEMPO
Dia Mundial da Juventude
1. Os jovens não são só o futuro, como por vezes se pode apontar. Para serem esse futuro terão de ser já PRESENTE. A juventude, melhor, as juventudes (sempre no plural das diversidades de visões e acções), é um fenómeno social relativamente recente. Não ainda há muitas décadas, de criança passava-se a adulto, sendo a juventude uma fase etária sem relevância. Felizmente que hoje os tempos são outros, mas com estas novas dimensões da vida social novas responsabilidades deverão caminhar a par. O mais errado que se pode considerar é à juventude tudo desculpabilizar, como se o que se faz de bem ou de mal não dependesse de sua autonomia.
2. Cidadãos em construção na sua formação, a juventude será uma das idades que mais poderá sofrer os embates das ideias que os adultos vão gerando. Quantas publicidades e propagandas procuram captar a atenção e condicionar a vida de quem tudo apreende e tudo o que for moda quer seguir…?! Neste sentido, poder-se-á dizer que a geração da juventude actual recebe na tecnologia os frutos da sementeira das últimas duas décadas, mas pode sofrer os abalos de um certo desprestígio a que foram deitados um conjunto de valores que se enraízam e alimentam na ética, essencial à coexistência de todos. Especialistas a manusear tecnologia, menos hábeis na arte de pensar de forma crítica e no empenho sócio-cultural e cívico, poderão ser estes alguns dos elementos caracterizadores provindos de estudos recentes.
3. Nos alvor dos anos 80, João Paulo II, o primeiro Papa global em comunicação com as Juventudes, sentindo a abertura planetária do mundo em exercício e no derrubar dos muros (de Berlim, 1989) como dos muros de possíveis visões de ocidente fechado ou de capitalismos sem éticas, abriu uma dimensão anual eclesial nova (no Domingo de Ramos): as Jornadas / Dias Mundiais da Juventude. Em 2009, na Diocese, foi celebrado em Sever do Vouga: a festa das Juventudes!

quinta-feira, 2 de abril de 2009

O FIO DO TEMPO
Semear a Não-violência
1. O mundo dos cinemas e dos noticiários são muitas vezes uma escola violenta. Vão proliferando algumas instâncias que procuram ser reguladoras dos níveis de violências mas que, efectivamente, poucos frutos parecem conseguir implementar. Há dias um pai de família com crianças de tenras idades manifestava uma profunda apreensão no facto de que a geração dos 10 anos, da geração de seu filho, comunicava entre si exuberantemente sobre os novos jogos informáticos cujos conteúdos são autêntica escola de crime, assalto, desregramento de vida. À insegurança social que se verifica cada dia junta-se uma lei do mais forte que parece imperar em tudo aquilo que são as formas mais fortes de comunicação actual.
2. Raro é o dia em que o crime violento não é notícia de destaque dos jornais ou que a televisão, mesmo em horários nobres, não ofereça uma programação forte, bem acima dos índices mínimos recomendáveis para os mais novos que tudo observam e absorvem. A mega concorrência que já há muito assume contornos de crispação (?) não consegue conviver com a razoabilidade de uma ética como escola de vida pessoal e colectiva. Depois admiramo-nos do estado de sítio, do simbolismo de casos gritantes de violência que perpassa em vários níveis da vida comum, das escolas às estradas públicas. Volta e meia, de alguns países vêm as piores notícias…, de algo que seria impensável entre humanos…
3. Como em tudo é essencial nunca generalizar, mas é imperativo não nos deixarmos conformar com aquilo que é uma sementeira que no dia-a-dia vai sendo plantada. Todo o rol de jogos sedutores para os mais novos, carregados de egoísmo, força e violência, não lidam bem com a educação para os valores da reconciliação e da paz. Toda a panóplia de tele-explicação meticulosa de como se processam os crimes não joga com os conselhos de responsabilidade educativa dos pais e da comunidade social. Há dados indesmentíveis, concretos e essenciais, que contradizem na prática toda a teoria do “está tudo bem” social. Ou não será?!

quarta-feira, 1 de abril de 2009

O FIO DO TEMPO
A cimeira da «Mudança»?
1. Uma carta aberta aos líderes europeus de um grupo de intelectuais e políticos do velho continente é mais uma forte achega para os compromissos e as responsabilidades indispensáveis a serem assumidos pelos primeiros responsáveis do G20, os vinte países mais industrializados e ricos do mundo, estes que se encontram reunidos em Londres. Decorrendo a cimeira na Europa, o conceituado analista «Timothy Garton Ash escreve na sua mais recente coluna do The Guardian que “a Europa será o grande ausente” da cimeira do G20.» (citado de Teresa de Sousa, Público 01-04-2009). A inquietude num mundo de crise em tempo mudança desafia todos a darem o melhor de si, os estados e os continentes regionais, como os trabalhadores, empresas, cidadãos.
2. A Carta Aberta aos líderes europeus antes da cimeira do G20, na base da consciência social, reclama toda a visão e capacidade de liderança em ordem ao melhor futuro. Refere o documento que «uma crise económica de grandes dimensões deveria trazer ao de cima o melhor da Europa», relembrando o melhor da memória da Europa pós-guerra. A pergunta e o desejo sobre o melhor, certamente, não se ficará pela questão de números económicos ou da preocupação da forte transferência de capitais e investimentos da Europa e América para a Nova Ásia. O «melhor», na tradição viva humanista que os pais da Europa tiveram como alicerce fundante, vai sempre ao encontro das ideias partilhadas que são luz de práticas.
3. Neste plano de uma ideologia que consiga aliar toda a esperança a todo o realismo, a cimeira acolhe pela primeira vez o presidente Norte-Americano, Obama. Deste continente EUA que demonstra capacidade de unidade no essencial a Europa também receberá o desafio de conseguir falar a uma só voz, mesmo que na diversidade das visões, algo que os responsáveis dos maiores países europeus continuam a revelar dificuldades. Também aqui, seja a cimeira da mudança (de mentalidade) comum!