domingo, 15 de junho de 2008

Na Linha Da Utopia
Era uma vez… A carreira
1. Era uma vez, algures lá longe em outro mundo, um governante de um país. Mergulhado nas águas sedutoras do poder omnipotente, um dia afirmou que a ratificação de um tratado europeu, na Europa de 27 países, era um dos passos «mais importantes da minha carreira pessoal». No dia seguinte o referendo acabaria por ser chumbado. Era uma vez um treinador de futebol, de uma selecção de um país em que o futebol tinha proporções colectivas enérgicas e em que esse líder treinador, mesmo com os prós-e-contras, havia conseguido um popular lugar ao sol. Na hora de continuar ou deixar a equipa, o próprio confessa que «a federação não cobriu a parada», pelo que «o dinheiro foi a razão para partir» rumo à Inglaterra. No dia seguinte, os rigorosos ingleses exigem a língua inglesa!
2. “É uma vez”, e é bem verdade, que alguns acontecimentos deste género vão fazendo vir à tona da água a qualidade, ou sua ausência, das lideranças que vão comandando os barcos sociais. Não é novidade que a fasquia da generosidade das grandes lideranças vai baixando e que vestir a camisola do serviço desinteressado é realidade, hoje, quase tida como ideia irrealizável. Mas talvez o pior de tudo seja que quase todos os vedetismos contemporâneos afirmam-se com as suas exorbitâncias, em termos económicos ou éticos, absolutamente escandalosas. (Quanto “pior” melhor?!) O generoso amor à camisola parece ser uma espécie em vias de extinção, e as mais novas gerações vêm vindo para este mundo e aprendendo desta escala de valores que dá primazia ao que se tem em vez do que se é.
3. Valorizar-se e sublinhar-se a «carreira pessoal» acima das causas a defender é ver tudo ao contrário, quase que fazendo dos eleitores-cidadãos o joguete de afirmações mais interessadas no prestígio pessoal que no autêntico espírito de serviço ao bem comum. É essencial rebater cada vez mais esta tecla! Confessamos que já nos parecia estranho um programa televisivo com o título «corredor do poder», mas afinal tudo faz parte do mesmo carreirismo, este que é um elemento perturbador da vi(d)a de uma sociedade democrática mais saudável. Quanto aos milhões que giram em torno dos grandes carreiristas famosos do futebol, neste escândalo, valerá a pena perguntar, nem que seja como inquietude inconformista com a realidade do ser pessoa: para quem já se vangloria dos “trilhões” que tem, de que valem mais uns milhões de euros?!
4. Não será tudo um profundo engano de pura ilusão, e logo de quem todos os dias tem uma visibilidade mediática extraordinária. Sinal de desumanidade? Império dos milhões de euros mas do vazio de valores? Enquanto esta forma de lideranças tiver todos os palcos, o valor humano da educação para a generosidade será praticamente impossível. Ou não será?!...
Alexandre Cruz [12.06.2008]

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