terça-feira, 24 de março de 2009

O FIO DO TEMPO
Dizer Angola
1. «Quem vai para Luanda vai para a fortuna, quem procura qualidade de vida vai para a província» (Visão, 12-03-09: 58), afirma sem receios um dos 100 mil emigrantes portugueses que recentemente partiram rumo a Angola. A nova terra de oportunidades está na moda, mas as buscas ansiosas das fortunas também poderão ser traiçoeiras quanto indignas, pois continuadoras de desigualdades que importa diluir. A terra da promessa está na ordem do dia, facto acelerado pela generalizada crise global e europeia (a que Portugal não foge), sendo a língua e a cultura pontes privilegiadas. De quem conhece os terrenos angolanos, o desenvolvimento floresce a cada dia, mas sendo certo que uma coisa é a capital e outra é a realidade do interior.
2. Os relatórios internacionais de desenvolvimento humano dos povos sempre cruzam os dados: no apuramento da verdade social, põem lado a lado os mais ricos e os mais pobres. Esta é a verdadeira “prova dos nove” do autêntico progresso e, nesta matéria (de contrastes gritantes), haverá muito terreno a lavrar. Por testemunhos vivos, Luanda está numa afirmação (porventura lícita como potência regional africana) a um patamar das cidades mais caras do mundo. Mas, “ali ao lado”, coexiste a maior miséria do mundo. O abismo desta distância é perturbador e o seu premente reequilíbrio como “justiça social” acaba por ser a urgência da sustentabilidade da paz para o próprio povo. Neste terreno, claro que a economia em si mesma não tem mal nenhum; mas a economia desregrada naquela palavra de fronteira ténue, “oportunidades”, pode, entretanto, comprometer…
3. Não é verdade que em Angola corra “leite e mel”, qual jardim bíblico paradisíaco! Será verdade um conjunto amplo e aberto de oportunidades de desenvolvimento, na base da educação (heróis os que persistiram na educação!). Não se quer uma verdade de oportunidade transformada em “oportunismos” maléficos e ampliadores de graves e corruptas desigualdades. Mesmo nos cenários do “mal menor”. O também Papa alertou (n)a realidade!

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