quinta-feira, 26 de março de 2009

O FIO DO TEMPO
É Futebol? Não levemos a sério!
1. Do Brasil Jorge Sampaio mostra-se surpreendido como nos últimos dias as notícias em Portugal têm sido a questão do anda e desanda do Provedor de Justiça e o assunto do famoso penalty do fim-de-semana passado…! Se é certo que a notícia é alimentada pelos órgãos de imprensa, que com mais polémica mais vendem, também é verdade que tudo isto acaba por ser símbolo da mentalidade portuguesa. Essa transferência (sem milhões!) do entretenimento para um plano tal como se fosse o essencial de um país dá muito que pensar. Nem sequer valerá a pena dizer-se que em tempos de crise temos de nos distrair com alguma coisa de supérfluo para pensar menos e relaxar mais…não, esta capacidade de elevação do “pormenor” ao patamar de assunto nacional é muito típica nossa… Faltar-nos-á um lastro saudável de humor?
2. A capacidade de autocrítica será muito positiva nestas matérias. Conhecermo-nos a ponto de lidarmos com os nossos limites, ganhos, derrotas, sofrimentos, festas, dores… Personalidades credíveis de vários quadrantes da vida nacional como o filósofo José Gil, o homem de ciência política Adriano Moreira ou presidente do Centro Nacional de Cultura, Guilherme d’Oliveira Martins, estudam, afirmam e procuram compreender as raízes destas identidades que geram em nós o absolutizar de realidades tão breves. Do panorama cultural G. Oliveira Martins, na sua obra Portugal: identidade e diferença (Gradiva: 2007: 185), reflecte sobre «a capacidade de não nos levarmos demasiado a sério, para melhor entendermos os outros e o seu lugar» e a nós próprios. É neste patamar que será oportuno sublinhar o refrão de não levarmos o futebol muito a sério (é bola!), seja qual for o resultado final!
3. Até porque as milionárias redes das balizas continuam virtualmente acima da crise, e estão cheias não do saudável desporto mas de um sistema de que parece que não se sai. A bola não merece tanto! Será?

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