segunda-feira, 30 de março de 2009

O FIO DO TEMPO
A Questão de Deus (I)
1. Especialmente desde os tempos do chamado positivismo, criado por Augusto Comte (1798-1857), daí para cá, os argumentos da razão humana se esforçaram mais em provar a ausência de Deus que a sua significativa existência como dadora de sentido à vida. Na filosofia anterior, mesmo com a dúvida simbolizada em Descartes (1596-1650), o pai da filosofia moderna, há lugar para ver além dos cálculos visíveis. O positivismo de meados do séc. XIX (o acreditar unicamente naquilo que se pode ver, experimentar, medir, calcular, dando a entender que tudo tem fórmulas…!) rapidamente cresceu, buscando o ser humano uma autonomia tal a ponto de julgar-se não precisar de ninguém. Neste encadeamento, após a designada filosófica «morte de Deus» pelo niilismo de Nietzshe (1844-1900), considerar-se-á que os outros são uma atrapalhação («o inferno são os outros», dirá o existencialista Sartre (1905-1980).
2. Os dados estão todos ligados. O apagar do invisível de Deus gerará menor capacidade de persistência nos valores visíveis... Um dos mais lidos e polémicos filósofos franceses da actualidade, de nome Michel Onfray, que em 2005 editou o Tratado de Ateologia (em defesa do ateísmo), esteve estes dias em Lisboa a lançar o seu novo livro, com o título A Potência de Existir – Manifesto Hedonista. Mais uma vez os dados estão ligados: ausência de Deus equivale a menor horizonte de ser humano. Realizámos com curiosidade a leitura da entrevista (Visão 26-03-09), mas na qual o autor argumenta de modo sensacionalista a sua recusa de Deus, referindo-se que «entre o cristianismo de Bush ou o islão de Bin Laden eu não quero nenhum». Resumir a questão de Deus a estas dimensões humanas históricas (como as guerras ou o mal), que nada têm a ver com a essência de Deus, será claro sinal de superficialidade humana e caminho, pois, de hedonismo egocêntrico. Remata, ainda, o autor que «só num mundo sem Deus é que o Homem pode ser livre.» …

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