quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

O FIO DO TEMPO
Os telemóveis que mais vendem
1. Somos um país especial em muitas matérias. Uma delas, de ano para ano, vai-se relevando como caracterizador da nossa identidade, porque dos nossos hábitos diários. As opções mais simples do dia-a-dia, repetidas continuamente, constituem-nos na nossa forma de agir e por isso de ser. Já há alguns anos se dizia que pelas quadras festivas de fim de ano éramos um país comparado ao Canadá no envio de mensagens de telemóvel. Agora em plena crise económico-social confirma-se o bater de todos os recordes de movimentações financeiras nos dias anteriores ao Natal a que se juntam as habituais salas de espectáculo esgotadas da comemoração de fim de ano. Factos são factos! Nada a destacar quando o essencial está assegurado e a sobriedade de vida se alia a alguns tempos fortes de convívio festivo; mas tudo a interpelar em termos de hábitos de consumo quando a tipologia do “crédito para férias” passou a ser uma rotina desorganizadora da renda mensal.
2. Formar para a autonomia saudável, onde se sabe discernir entre o essencial de que precisamos e o acessório de que com facilidade podemos prescindir é hoje uma missão nacional. Quando os dados estatísticos vão continuamente confirmando que o endividamento das famílias portuguesas cresce descontroladamente mas que os apartamentos mais caros são vendidos mais cedo, o mesmo ocorrendo com os telemóveis mais sofisticados e electrodomésticos mais dispendiosos, esta realidade, tanto pode confirmar uma crise profunda da classe média na desigualdade crescente como nos desperta para a necessária educação para o consumo, o mesmo será dizer, a formação para a felicidade. As coisas compradas para comprar as relações humanas ou a própria felicidade e o sentido de viver são a maior “contra-informação” que diariamente se publicita sem cessar.
3. Se estes factos confirmam que temos bom sentido de adaptação a novas situações como a integração na dita sociedade tecnológica, que bom seria que essas aptidões fossem aplicadas ao serviço de ca(u)sas organizadas onde no dia de hoje se planeia o dia de amanhã. A urgência de pensar a médio e longo prazo, até neste campo é fundamental, quanto mais no essencial da razão de viver!

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