quarta-feira, 17 de março de 2010

O FIO DO TEMPO
A dor a solidão do vandalismo
1. Todo o acto vândalo é condenável. Aliás, vândalos eram os bárbaros, aqueles que promoviam a barbárie, a matança sem freios, a promoção iníqua do mal, o dividir para reinar. O ambiente vândalo convém a quem quer domar e dominar. O acto vândalo como o de violência para a resolução de contenciosos ou opiniões diversas, espelha o mau estar de quem o promove ou faz. À sociedade feita de gente adulta e amadurecida o acto violento e bárbaro não faz parte do programa de argumentação, e as palavras que hão-de ser ditas em sede própria na procura de fundamentação não se poderão traduzir em acto violento obscuro. Só a menoridade e o fanatismo conseguem conviver com o sombrio vandalismo.
2. É demolidor e fatalista mais que o acto em si a ideia de o realizar. Quando não há pensamento racional ou quando não há instrução, porventura, é menor a obrigação da ética e o acto violento contém alguma atenuante. Mas como “a quem muito é dado mais é pedido”, o acto de violência idealizado e executado por quem tem pensamento próprio é crime inqualificável. Neste passo do terrível e impensável que os humanos podem fazer uns aos outros, aos que estão cá e até aos que já partiram, vale a pena meditar nas palavras de alguém que viu criticamente no seu tempo a desgraça da barbárie humana, de quem gosta do mal.
3. Montaigne (1533-1592) viu e denunciou a mortandade que os europeus donos da razão cometiam para com os outros povos encontrados: «o que, porém, nunca entre eles se viu foi uma opinião tão desregrada que justificasse a traição, a deslealdade, a tirania e a crueldade, vícios vulgares entre nós. Podemos, pois, chamar bárbaros a esses povos face à razão mas não face a nós, que os ultrapassamos em toda a sorte de barbárie». Que habita na cabeça de quem usa a razão para a prática da violência e do vandalismo? Que perturbadora realização e felicidade é essa, a da prática do mal aos outros? A enfermidade de quem pensa e age no vandalismo é e será a dor da profunda solidão por que se escolheu seguir o caminho...

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